terça-feira, 17 de novembro de 2015

SÓ POR HOJE

SÓ POR HOJE
Vânia de Farias
Só por hoje eu queria tua mão...
eu queria tua mão a segurar
minha mão de criança a caminhar,

tão segura por tuas mãos somente.
como quando criança, me levavas
para a festa...Das Neves, ainda lembro
mesmo não havendo neve eu precisava
do calor de tuas mãos, ainda preciso,
mesmo não havendo neve minhas mãos
estão gélidas como as mãos de um cadáver
desolada como o vento represado
como a ave sem um ninho pra pousar
como uma planta sem água pra sugar
um lamento sem som para escutar
como um filho sem pai, pra lhe amar
um escravo sem a esperança da liberdade
como um soldado após dura batalha:
a refrega sem trégua que deixou
os companheiros mortos e insepultos
e quando chega em casa não encontra
mais sua noiva: a mesma desposou
um outro homem mais perto que deixou
o seu corpo mais quente,mais contente.
Só por hoje eu querida tua mão
pra prender meus cabelos, qual pinhão,
rodeado por fiéis barbantes
meus cabelos rebeldes, qual amante
como eu... que sonhava com os montes
para soltos correrem mundo a fora...
Meus cabelos tinham causa e memória.
Era a causa dos negros de outrora
que queriam a liberdade desde infantes
mas se faz necessário a prisão
para o bem e a felicidade dos que estão
acostumados aos cabelos sempre calmos...
de tão castos, não reclamam eis que estão
na ultima moda, por que não?
a primeira, a segunda e as demais?
onde estão todos nossos ancestrais
desde quando saíram desta moda?
Só por hoje, eu queria tuas mãos
para esticar meus lençóis antes do sono
pra sentir tua presença, mesmo insone
pra tocar o meu rosto de menina
e depois sorrir de tão contente
eis que tu, minha amada mãe ausente
ainda consegues,me acalmar e tão somente
com as lembranças que guardo do passado
minha vida é de príncipe sem reinado
é de potro selvagem sem um pasto
é de alma imortal,tendo seus passos
aterrados na terra qual o gado.
Vânia de Farias
Em 22 de junho de 2015.

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