VIDA VERDADEIRA

VIDA VERDADEIRA.

Abramos os nossos olhos
nossa mente e ouvidos
continuar, como estamos
não está fazendo sentido

apologia, aplausos
ao desmando, vida livre
necessário analisarmos
o que é mesmo preciso

se um mundo de poder
aquisições sem limites
ou uma vida tranquila
mesmo que haja conflitos
entre o querer e poder
eis que viver é preciso
sem tantos bens de consumo
consumindo o espírito

Almejamos ser amados
aceitos em nosso grupo
para isso, recorremos
as vezes a espúria conduta
esquecendo o que mais vale:
vida digna com escrúpulos

Carecemos de aplauso
respeito e validação
reconhecimento, encômios
apoio e admiração
só assim nos sentiremos
importantes nesse chão

esquecemo-nos do fato
de nossa destinação
ser feliz sem adereços
embuste, ou simulação
o que importa é o homem
despido de ilusão

ser capaz de se bastar
se conhecer, perscrutar
o que esconde no íntimo:
necessidades, conflitos
sombras e luzes, dançando
num bailado em sincronia
até o grande encontro

do homem com o seu self
ou seu princípio pensante
estamos sempre em busca
de satisfação egóica
e quanto mais nós juntamos
nossas forças se esgotam

desgastamo-nos à toa
sempre em busca do impossível
e quando nós alcançamos
não preenchemos o vazio
queremos agitação
dos sentidos entorpecidos

partimos para outras buscas
materiais, quanto efêmeras
esquecendo-nos da essência
e suas paisagens plenas

onde o ser é o importante
em busca de elevação
luta contínua e sem pressa
pela sua construção
amando a si e ao próximo
nesta e noutra dimensão.

É melhor ter o cuidado
com a vida verdadeira
esquecer dessas miragens
sempre em busca de asneiras

ostentação, holofote
ser o primeiro da fila
mas quando o outro é defunto
não queremos estar na fita.

Engraçado, tudo muda
quando a morte nos acena
num velório ninguém quer
ser o primeiro da cena

nos basta a figuração
com pouca reflexão
sobre a vida e seus problemas
uns complexos, outros mais simples
mas aumentamos o tamanho
a depender do momento
do que queremos no ganho

para lucrar mais um pouco
fazemos como os répteis
mimetizando a aparência
sem nos importar com o resto.

Vânia de Farias Castro.
Maio de 2017
Imagens google.

ZÉ MANÉ

Meu amigo, estou pasmo
estarrecido até.
Esqueci até meu nome
acho que sou Zé mané
nunca vi coisa mais tosca
mas parece as paredes
de Mariana, a louca,
comadre de Barnabé.

Para entender a história
que agora vou contar
é preciso passear
pela 5 de agosto
é uma rua inteira
onde vivi boa parte
de minha infância entre os moços

Lá vivia Mariana
louca e ainda sem perna
usava muitas correntes
saias rodadas e compridas
para esconder o cotoco
e a outra perna sadia

se pintava com exagero
com rouge em suas bochechas
nos braços, muitas pulseiras
duas muletas encardidas
parecia uma cigana
com grandes argolas douradas
e flores em sua cabeça

Sentava em nossas calçadas
com suas saias rodadas
conversava sobre a vida
que a mesma via na mente

pedia pão com manteiga
caneca de café quente
para aquecer seu dia
e o dia de muita gente

Ao visitar sua casa
víamos uma cena esquisita
parede toda coberta
com alguns retalhos de chita

fotografias já sépias
notícias de velhos jornais
e recortes de revistas
bandeirinhas de papel
com correntes coloridas
lamparinas e muita fita.

Era um caos colorido
por toda sala enfeitada
não havia equilíbrio
pra quem passasse na estrada
mas pra louca Mariana
Ali o cosmo imperava.

Acredito que estamos
viajando noutros tempos
um espaço paralelo
onde o mais, agora é menos
falar é coisa de louco
calar é o que aprendemos

Ser político até que é fácil
é permitido roubar
mentir, tirar dos mais pobres
dar a ordem pra matar
se alguém se atrever
no caminho atravessar.

Mas falar de compromisso
com a segurança dos filhos
não pode, eis que apresentam
discursos e seus estribilhos
machista é quem se aventura
a nos mostrar o perigo

Dizem em alto e bom tom
que a mulher dever ser livre
para receber em casa
qualquer um, mesmo inimigo
de seus filhos, ainda implumes
cuja voz ainda é gemido.

Meu amigo, não entendo
a mudança de valores
o que era feio, hoje é belo
as belezas, são horrores
ler é coisa do passado
amizade, hoje tem cor
criança tem namorado
quem governa é o impostor

sexo que era para adultos
hoje é pra qualquer vivente
velho tem que trabalhar
até o fim da sentença
a cabeça se aposenta
genitália, hoje é quem pensa

Imaginem o resultado
de tanta coisa invertida
quando de minha infância
eu dançava na quadrilha
nos festejos populares...

Hoje é de gente granfina
na capital do país
passo da moda é propina
É uma tal de delação
com os prêmios dos maiores:
"Entregue o bode da vez
que tua vida melhora

mas se tentar ser sabido
o que tá ruim só piora
é a boia no almoço
e o que boiou no jantar
se não quiser faça greve
de fome até se matar.

Mas se aprender o meu passo
nossa quadrilha, dançar
terás vida longa e bela
vais pra Disney passear
Hollywood, nós podemos
no roteiro acrescentar
Las Vegas já está inclusa
vais pros cassinos jogar
o dinheiro que tiramos
dessas antas, do lugar

Eita país de marmotas
sem noção e sem ação
vendemos o seu patrimônio
ainda nos beijam a mão
como os seus benfeitores
protetores da nação

chafurdamos na esbórnia
gozamos em suas mãos
não escutamos um pio
estão mortos de exaustão!"

Eita país de abestados
nunca aprendem a lição!

Vânia de Farias Castro.
Em maio de 20117.
Imagens Google.

FILHO MEU

FILHO MEU

Em meu colo te acolhi
exultante de alegria
esqueci das noites frias
em que sofri o abandono
dos sonhos da juventude
onde pensei que a virtude
era insígnia de outros homens

Mas eis que o pesadelo
se instalou sem rodeios
prendendo-me os cabelos
em revolta insensata

vivi dias de tormenta
em agonia cruel
na minha taça, o fel
era o líquido soberbo

Mas sorvi, com dor e medo
cumprindo minha desdita
sabia que encontraria
luz ao raiar do dia
se entendesse o segredo
sibilando em meus ouvidos:

a mãe é o vaso escolhido
entre os eleitos de Deus,
a ser amor, ser magia
ser encanto, melodia
proteção e moradia
para seus filhos queridos
sem medo de Epimeteu.

Esperei-te intimorata
com esperança florida
hoje iluminas a vida
de quem contigo estagia

meu filho és claro dia
após tormentosa noite
bendigo agora, os açoites
que um dia, me afligiram

pois sei que mais vale à vinda
de um filho do coração
do que a separação
das ilusões de menina!

Chegaste belo e sadio
forte, como o nosso amor
afastasse logo a dor
que há muito se hospedara
meus olhos, se encantaram
com belo e caro presente
só uma mãe, vibra e sente
com rara espécie de bem

Aos céus, eu disse amém
Bem vindo filho querido!
Hoje entrego ao olvido
os temores do passado
ao mau, deixo o seu fardo
da maldade que agrisola

bem sei que as minhas horas
serão de encanto e ternura
encheste-me de ventura
de coragem, fé e força
hoje ainda me conforta
ser de ti arrimo e chão!

Nas lutas que hoje travas
espero ser teu conforto
quero te ver bem disposto
nas batalhas bem forjadas
rogo a Deus, que nas estradas
pelos teus pés escolhidas
não encontres o reverso
das medalhas recebidas

Vânia de Farias Castro.
Em maio de 2017.
Imagens Google.

É muito desanimador ver a população dividida em grupos, cuja única preocupação é proferir xingamentos ao Lula e ao PT, e outros a defenderem o grupo de golpistas, e ricos que na verdade são e serão os únicos beneficiados com a desordem que se estabeleceu em nosso país. Quando será que esse povo vai acordar dessa briguinha idiota e se preocupar e agir para retomar a democracia, o crescimento econômico e a redução das desigualdades sociais?
Será que ainda não perceberam que estão sendo usados como bobos de uma corte onde só uma minoria sairá lucrando? Só haverá benefícios para os realmente ricos, e que o resto da população será obrigada a trabalhar durante toda a sua vida, para manter as viciações desses celerados morais?

Não haverá um momento de reflexão, nesse grande grupo que se comporta como se estivesse numa eterna féria? E mais, num cabo de guerra contra outros espoliados e explorados tanto quanto eles próprios? Dizem os estudiosos do comportamento que o ódio, cega, enlouquece, envilece e desumaniza o indivíduo, mas observamos que o ódio emburrece. O ódio a uma pessoa, ou a um grupo de pessoas, torna os padecentes desse ódio, uns fanáticos suicidas, mais parecem os homens bombas tão comuns no oriente médio, que são levados as piores atrocidades em nome de mentes perversas de psicopatas destituídos de qualquer sentimento ou compaixão pela humanidade.
No nosso país, com dimensões gigantescas, vemos esse quadro de alienados crescendo com uma velocidade espantosa, repetindo palavras de ordem e agredindo os concidadãos, a semelhança dos seguidores do nazismo e de outros regimes fascistas. Desistiram do direito de pensar, e entregaram a razão, para que mentes perversas e gananciosas, pensem por eles, e comandem seus atos, que passam em alguns momentos de pueris, passando pela irresponsabilidade juvenil, até alcançar a intolerância e barbárie.

No inverno em que agora estagio
parei de sonhar com a primavera
hoje vejo o retorno de outras eras
olho o estado armado quais as feras
desferindo seus golpes com vigor

Tua cabeça se abre em rubra rosa
e suas pétalas que a tarde nos sorriam
hoje dormem na cadência do torpor
Nos deixando em ruidosa asfixia

só os sons das máquinas a ressoarem
em vigília de teu sono atormentado
sob os alvos cobertores de teu catre
tua mente se agita em pesadelos
assombrando-te com insígnias e despreparo.

Companheiros, hoje acordam agoniados
procurando lá nas páginas do passado
emulação pros seus atos de bravura

mas as mães desses jovens massacrados
não precisam de heróis ou mesmo mártires
querem apenas os seus filhos aninhados
em seu colo de aconchego e de ternura

Os jardins já cultivados com desvelo
guardam os sonhos que acordam em desespero
ante a turba assaltando a utopia
velhos lobos em macabra marcha fúnebre
vendem ódio e mentiras que confundem
os incautos, quanto crédulos, em apatia

Hoje dormem no conforto do egoísmo
punho em riste, e gritando em estribilho
convidando que lhes cortem as gargantas..
Capitulam numa luta em que fraquejam
outros lobos embriagados, hoje festejam
a vitória da desordem desse mundo

Aprendi que a tarde é boa conselheira
quando serve a justiça verdadeira
mesmo sendo ferida na batalha

minha noite, cuja luta é mais acerba
minha mente, fervendo qual fornalha
entre o sol da manhã que ainda viceja
e a tarde com seus sonhos, te deseja!

Em maio de 2017
Vânia de Farias Castro.
Imagens Google.

MELINDRE

 MELINDRE

Amigo deixe de onda
não aguento mi mi mi
com esse teu ruminado
não consigo nem dormir
nunca vi tanto berreiro
nem na hora de parir.

Minha mãe era parteira
não gostava de besteira
nem gritaria, coceira
lenga lenga, baboseira
imagina cri cri cri...

Já te disse: seja home
não amarele com a queda
tua moleira tá mole?
Quem mandou puxar a reza
se não queria rezar?

Já levei tanta pancada
por esse mundão afora
não entendi a demora
de escutares o refrão:
não aguento lero lero
se não queria a farofa
porque trouxe a farinha?
Pensou que tinha pirão?

Aqui é oito ou oitenta
ou é gelado ou é quente
ou é parado ou correndo
já cansou, que se assente
se quiser pedir ao santo
ajoelha e reza junto
o meu rosário apressado

já comemos maus bocados
com amigos e inimigos
parentes e aderentes...
Comadres e afastados

Não há ninguém que aguente
mi mi mi, cara de manha
vê se aprende a façanha
pois a banda que eu aliso
já se transformou em ralo!

Amigo que coisa feia
macho chamando atenção
se não tem, pula no chão
como moleque mimado
tua mãe morreu no parto
Não te deu educação?

Se morreu, presta atenção
precisas te comportar
onde se viu, capiau
dando chilique, surtando
dando vexame cobrando
beijinhos, e corações
e nosso tempo ocupado.

Minha mãe quando menina
brincava com cascavel
amarrava a condenada
pela cabeça, arrastava
nas veredas, nas queimadas
só para ouvir o chocalho

Ela também me dizia:
fuja de gente carente
são egoístas com dentes
mas querendo mastigado

se um dia precisares
desse tipo de amizade
verás correndo assustada
com medo de compromisso
são sangue sugas, chouriço
em veia com diabetes
fuja logo dessas pestes
senão terminas, amputada!

Olha lá se tenho tempo
para bochicho, gemido
arrumadinho, escondido
salada de agrião
como arroz com feijão
farinha e rapadura

na minha vida há fartura
de trabalho, riso e prosa
um cordel, som na vitrola
cavalete para as telas
mas numa necessidade
faço uso, sem cautela
envergo tuas costelas
com o cavalete quebrado

Meu avô André dizia
hoje vejo, com razão
quando nascia um menino
e falavam que era homem
respondia então sorrindo:
"nasceu macho o rapaz
vamos ver se o mundo faz
esse cabra virar homem!"

Amigo, na minha prosa
nunca coube ladainha
gente sonsa, fofoquinha
macho chato e covarde.
Vou dormir que já é tarde
pra jogar conversa fora.

Vânia de Farias Castro
em maio de 2017.
Imagens: Google.

TEU SORRISO

Pois é...
Gosto de ver esse sorriso largo,
dando passos ao encontro do futuro.
Afastando toda sorte de monturo
que surgirem de repente na estrada...

Gosto de ver
essa fibra nos tecidos em que bordo
os meus sonhos de equilíbrio sempre a bordo
dessa nave onde muitas naufragaram

Quero ver
os teus olhos com o brilho de um rubi
ostentando a certeza de um porvir
com as sementes se abrindo de seus bagos

Que possamos nos cuidar com o cuidado
da mãezinha com o filho recém nato
nos primeiros vagidos do sentir.

És a terra, o fogo e o vento
és o ouvido escutando o lamento
de outras tantas, caminheiras a seguir:
o teu som de audácia e de ternura
dessa luz, clareando a rua escura
em que foram jogadas ao permitir

o engano de tantos opressores
repetindo os seus mantras em estertores
quais sonâmbulas sem sentir os pés descalços
num bailado em cacos a cortarem
os seus pés, impedindo-as de avançarem

Rogo a Deus, que proteja teu sorriso
das ciladas e armadilhas do inimigo
desengano, desânimo e outros males.

Para Fátima Mana Sousa.
Vânia de Farias Castro.
Em maio de 2017.