domingo, 30 de abril de 2017

PODER E TRUCULÊNCIA


PODER E TRUCULÊNCIA
(segundo ato do golpe)
Vânia de Farias.

Mais um jovem espancado cruelmente
por mãos pagas para nos proteger
dos criminosos e bandidos sem colarinho
ou de colarinhos de listras, poás ou pintados
de estrelas azuis, num céu amarelo de terror!


Mais um jovem representante de outros
que sonham e lutam por um país diferente
sem a sanha cruel e incompetente
desse poder cuja força é pusilânime e assassina

Mais um jovem calado, e cuja voz, que antes
enchia de alegria e esperança outros como ele
hoje silencia de horror e agonia, diante de criminosos
ostentando farda e insígnia e ainda se alimentando
do resultado de nosso trabalho e inúmeros sacrifícios

Que será de nossos jovens?
Já lhes são negados tantos bens:
escola, remédios, conhecimento real dos fatos
entretenimento saudável e vida digna...

Tiram-lhes agora o direito
de irem as ruas de suas cidades
lutarem e pedirem que não nos seja tirado
o que pouco que nos restou

Que quer de nós essa malta ensandecida?
Numa dança macabra e lúgubre, nos trazendo
de volta os horrores de 68, e seu AI 5.
Estamos na segunda fase do tenebroso Golpe

O GOLPE no crânio de Mateus, atinge a muitos de nós!
E parte nossas pernas, cala nossa voz, já sem forças
por inanição pela falta do alimento necessário:
empatia para com o sofrimento e necessidades do outro.

Qual o crime cometido por Mateus?
Sonhar com liberdade, dignidade e
e promoção humanas?
Que outros jovens desse imenso país
tivessem acesso a Universidade Pública e gratuita?

Que se aventurassem a sair das cavernas
a que estavam presos, com medo da luz?
Realmente, é muito perigoso sonhar...
Num pais onde o crime e a corrupção
são institucionalizados,
sonhar é crime de alta periculosidade

e as mãos do estado, arranjam sempre
um confronto, usando alguns lúmpens
protegidos por coletes e armados até
a torpe medula.

E "tiroteios" com pás e cassetetes
afrontando a lógica e o bom senso.
Só nos restando o senso comum:
o medo de que nossos filhos
e os filhos dos amigos, tenham o
mesmo destino de Mateus:
respirar por tudo, com o crânio esmagado
por psicopatas a serviço da loucura e pusilanimidade
É muito perigoso pensar!

E se tentarmos casar o pensamento
com o sonho, melhor preparar o caixão
ou os caixões para os inúmeros Mateus,
que se "confrontaram" com a milícia.

Alguma coisa mudou desde os anos 70
as mães e esposas, podem enterrar
os corpos de seus filhos e maridos
Os pais podem enterrar e chorar
diante do caixão de seus filhos
e algumas faixas de indignação e repúdio.

O que antes ocorria nos porões 
imundos e abjetos do DOI CODI
hoje se ver a qualquer hora do dia,
e veiculados pelo mundo inteiro
já que os assassinos não serão penalizados
porque estão a serviço dos poderosos, claro!
Mas pago por todos nós!

Vânia de Farias Castro.
Em abril de 2017
Imagens: Mateus Ferreira.

domingo, 16 de abril de 2017

O DEVER

O DEVER
Vânia de Farias.

Estou a pensar no dever
no dever
no dever
no dever de viver
de viver
de viver


No dever de sorrir
mesmo nas incertezas
da amonia em que estamos
mas há tanta beleza
pois o nosso dever
é sorrir
é sorrir

como o velho palhaço
não obstante as dores
cumprem com seu dever
de trazer alegria
pra quem esteja ali

Se o mundo é um palco
pra que servem os dramas?
Nos fazer refletir
refletir
refletir

que o drama faz parte
de nosso viver
que a dor é inerente
a nossa condição
de ser
de ser

No palco há tragédias
que possamos enfrentar
há vítimas caídas
que possamos ajudar
a poder levantar

quem no palco trair
é preciso auscutar
o que trai, trai a si
não ao outro, seu par
onde mora o dever

onde fica seu lar?
Em um mundo distante
não podemos alcançar?
O dever mora aqui
bem pertinho de mim
o dever mora aí
bem pertinho de ti
o dever mora lá
bem alhures, quiçá

que possamos cumprir
com o dever de amar
o dever de seguir
e cumprir o dever
de entender
de entender
de amar
de amar.

Vânia de Farias Castro
em 05 de março de 2014
imagens google.

ASAS ABERTAS

ASAS ABERTAS
Vânia de Farias.

E abrirei minhas asas em liberdade
sairei da apatia em que me prostras
partirei hoje a tarde pra outros mares
pousarei em descanso nas encostas


E abrirei minhas asas para o sol
esperando o aquecer de suas penas
e das minhas, já que sofro em demasia
sem a tarja da amiga ritalina

E abrirei minhas asas agradecendo
pela luz que clareia minha mente
dando voz ao que sinto ou percebo
e a coragem de sempre seguir em frente

E abrirei minhas asas em tormento
a procurar, o acalanto lá nos montes
e ficarei a observar em um mirante
para entender o teu esgar e teus lamentos

E abrirei minhas asas, voo longe
para fugir desses sítios de horrores
tua ganância, que te cega ante as dores
de muitos homens sem um norte, sem alento

E abrirei minhas asas pra fugir
de tua sanha assassina de meus sonhos
de sermos juntos, nova luz para o rebanho
que segue cego sem enxergar quem o amedronta

E abrirei minhas asas, para a lua
em alegria pela graça em que ela brilha
sem nostalgia ou recusa na partida
dando a chance do nascer de um novo dia

E abrirei minhas asas para o céu
meu fito hoje, é alcançá-lo ainda em vida
beber na fonte da alegria e da nobreza
e agir sempre com a ética como viga

E abrirei minhas asas para a vida
após a morte que espero encontrar
com os amigos que me antecederam
e hoje informam o que encontram por lá

E abrirei minhas asas aos avatares
que aqui chegaram a ensinar suas verdades
e os caminhos que devemos palmilhar
com seus exemplos, sem o engano das maldades

Vânia de Farias Castro.
em abril de 2017
Imagens Google.

NA CORDA BAMBA

NA CORDA BAMBA
Vânia de Farias.

Está difícil andar por aqui
ando na corda bamba e ainda embriagado
com tantas informações, estou ficando surtado
uns blasfemam, outros gritam, uns perseguem
outros atiçam... Outros tantos se irritam


ficamos muito excitados um tanto atabalhoados
sem um rumo, sem um norte, tanto selfie, tanto blefe
melhor é ficar esperto, se eu cair dessa corda
não verei ninguém por perto

Vejo muito espalhafato, sempre ocultando o fato
a justiça sem a tarja, despediu-se do seu fito
vê dinheiro, vê poder, mas não consegue nos ver
indigentes, só arrigo, injustiçados e aflitos,
onde encontrar solução pros inúmeros conflitos?

Fui na igreja rezar, encontrei só malandragem
na fogueira da cobiça, ganancia e sacanagem
vi queimar nessa fogueira, a nascente do amor
das cinzas a chaga pútrida do egoísmo medrou

vi seus chefes, enganando, a todos que aportavam
naquele grande teatro, indo em busca de regalo
que aplacasse a sua sede de justiça e de amparo
só encontraram impostores, rindo do livro sagrado.

Fui na escola ver o ensino como eu tinha lembrado
mas só vi a rebeldia, desrespeito aos bocados
professores hoje tios, não ocupam o estrado
transmitindo o que aprenderam, só deboche enfeitado

com sotaques, tiques, toques, malandragem desencanto
e os pobres professores encolhidos a um canto
com medo de represálias, desemprego e outros tantos
deboches, menos valia, humilhação, amedronto.

Fui visitar o amigo, em seu mundinho encantado
mas só vi deselegância, em seu rosto emburrado
quando falo de conflitos, sofrimento maus bocados
quando surto, vendo o outro amido desfigurado

pela empáfia, covardia, perseguição disfarçados
de bons modos, fala mansa, bom traquejo no mercado
levando a mercadoria, sem sequer ter um trocado
muito menos o dinheiro para levar o comprado

meu amigo visitado fica logo lívido e tenso
só fala de fantasia, meditação e consenso
pula assunto, perde tempo, mas não perde o equilíbrio
fiquei impressionado, com a pressa do amigo

de fugir do nosso assunto, quando mostro o inimigo
pulando com rapidez, de dentro bem escondido
de minha mente inquieta, seu abrigo preferido
meu amigo, foge rápido não enfrenta o perigo.

Vânia de Farias Castro.
em abril de 2017
Imagens Google.

ALELUIA ALELUIA

Ave Senhor!
Nasceste dos mortos
Jamais morrerias
pra quem te amou
pra quem foste tudo
pra quem foste pão
pra quem foste vinho
pra quem foste Irmão.


Teu renascimento
nos causa alegria
o júbilo é tanto
que não caberia
no nosso planeta,
eis que ele é pequeno
para acomodar
o nosso lamento.

Por teres passado
por grande paixão
pela traição,
de um teu irmão
pela covardia,
daquele Pilatos
pela vilania
dos teus assassinos

Pela serpentia,
daqueles que um dia
comeram o pão,
que distribuías
pelas cercanias,
daqueles rincões

das praias, dos montes
por onde passavas,
e distribuas
a linfa da paz
e a esperança
de um reino vindouro

um reino de ouro
Onde o mal jaz,
onde o bem que vence
na luta travada
bem dentro de nós!

Vânia de Farias, em 20 de abril de 2014
Ressuscitou, aleluia!

ASAS CORTADAS

ASAS CORTADAS
Vânia de Farias.

A lâmina das críticas
alcançaram minhas asas...

Sem propósitos, infelizes
pareciam as meretrizes
dando amor por um trocado

igualavam-se aos capatazes
das fazendas de além mar
vigiando com insônia
quando eu tentava voar

atiradores de elite
dos projéteis da malícia
covardia e desdita
e vidas malbaratadas
podiam ficar imóveis
por dias, ou anos inteiros
a espera do momento
ideal para o ataque
desferindo os seus golpes
tão mortais quanto certeiros

fiquei inerte, em coma
meus sentidos amorteceram
foram anos de receio
de medo do julgamento

fiquei exposta ao relento
de suas lentes embaçadas
adormeci nas calçadas
dessas terras de ninguém

agarrada ao meu sonho
sentia a dor do abandono
sem prévio aviso de quem
penhorou o seu afeto
sem a intenção de honrar
com a aliança firmada
confiança em depósito
há muito tempo em escombros.

Quando acordei para a vida
percebi o grande engodo
nos muros apenas lodos
formando tétrica pintura

vi que nada conheciam
do mundo, da vida plena
da consciência serena
pelos deveres cumpridos

dos corações em pedaços
pelos golpes impensados
proferidos com vigor
pelos muitos assaltantes
atacando sem pudor.

Também vi, teu corpo flácido
demonstrando a ação do tempo
que jogava aos quatro ventos
tua empáfia encardida

hoje olho arrependida
o sangue escorrendo lento
nos inúmeros aposentos
de minha letra escarlate

Me ergui, caminho certa
do futuro que me espera
senhora de meu destino
despedi-me hoje das feras

intimorata e serena
olho em volta, sinto náusea
dos inúmeros internautas
que ainda sofrem a desdita
da mentira, sempre aflita
a procura de adeptos
para o seu necrotério
repleto desde outras eras.

Mas eis que saio da rede
de suas teias mortíferas
sigo em paz, sem a desdita
de suas línguas ferinas

meus olhos, acostumados
a procurar a beleza
hoje guarda a certeza
de nossa fatalidade:
ser feliz, sem a maldade
cortando as nossas asas!

Vânia de Farias Castro.
Abril de 2017
Imagens Google.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

SENECTUDE

SENECTUDE
bênção ou maldição
Vânia de Farias.

Na velhice esperamos
calmaria dos sentidos
dos arroubos, o olvido
das danações, a distância


mas quando vemos um velho
astuto como criança,
querendo mostrar tesão
quando a chama já se apaga
apalpando sem noção
sentimos que a vergonha
aportou em nossa casa

a natureza é sábia
e a tudo comanda e cuida
na velhice os interesses
mudam sua estrutura

natural, que aquietemos
nossos desejos infrenes
e cuidemos mais da alma
e sua vida perene

mudamos nossa visão
quanto ao mundo da forma
é tempo de questionarmos
empreendermos reformas
em nossa casa mental
refletindo sobre o mal
e o bem que nos comporta

Urgente encetar viagem
para dentro de nós mesmos
encontrar o que queremos
para nós e para os nossos
como posso ser apoio
se encontro-me em destroços?

O momento agora é outro
o espírito, sai do corpo
indo em busca de si mesmo
procurar outras paisagens
deixando aqui as miragens
para os jovens no começo

Senectude é bênção
para quem aceita e sente
a distância da serpente
lhe oferecendo o perigo
das intempéries do sono
nos dias da mocidade
com seus confetes e brilhos

É hora de acordar
para a vida verdadeira
abandonar as besteiras
de um corpo em decadência

aceitar com complacência
que a vida continua
em outras paisagens nuas
nos mostrando outras paragens

Hoje nossa majestade
é o controle das paixões
ver beleza, onde antes
desviávamos os olhares

natural que na viagem
comecemos do começo
vivamos tudo aos tropeços
que a juventude indique

mas ao chegarmos a velhice
deixemos de macaquices
e aceitemos a encomenda:
nossos corpos já cansados
esqueçamos do Viagra
usemos inteligência.

Vânia de Farias Castro.
Em abril de 2017
Imagens Google.

SENTADO NA CORDA BAMBA

SENTADO NA CORDA BAMBA
Vânia de Farias.

Pensavas que eu queria
de ti a validação?
De meus feitos, ou mal feitos
eu te garanto que não


queria a prosa larga
dos afetos que se dão
em abraços de palavras
silêncios e comunhão

dos amigos que plantaram
respeito e admiração
nesta terra, seca e árida
sem afeto e emoção

queria a conversa amena
sobre sonhos e beleza
falar do que aprendemos
com as lutas e asperezas

da vida e suas feras
nos mostrando suas presas
com as bocas escancaradas
demonstrando esperteza

queria a gargalhada
livre franca, sem mordaça
despir-me de minhas capas
escafandros, carapaças

Olhar-te com lentes claras
despidas da ilusão
que permeiam esse espaço
onde inimigo é irmão

queria ter tuas mãos
nessa árdua caminhada
e poder contar contigo,
se não houvesse mais nada

que juntar nesses terrenos
secos, sáfaros e aziagos
e também ser tua fruta
tua fonte de águas claras

queria boas conversas
por madrugadas afora
sem rodeios, mesmo freios
deixando o martelo fora

pros juízes de plantão
sem a toga, só mulambos
lhes cobrindo o corpo obeso
de arrogância e assombro.

Digo-te amigo, agora
esqueças o prometido
Tudo bem, partes pra outra
foi jogado o sentido

na fogueira da vaidade
se encontra estremecido
aguardando o combustível,
pra queimar deixando apenas
cinzas, tocos chamuscados
e alguns cacos de vidro

Fico aqui na corda bamba
mas sentei, tou nem aí
vou procurar as notícias
que circulam por aqui

tanto aplauso, tanta baba,
conversa pra boi dormir
cachorros lambendo os próprios
rabinhos num frenesi

confetes, circulam tontos
colorindo os espaços
emporcando todo o piso,
causando-nos embaraços
 aos que chegam sem aviso
impedindo-lhes os passos

acho graça, tanta empáfia
pra que serve? Dê-me o braço
amigo, a vida é bela
corramos por esses matos

colhendo jabuticabas
manga rosa e araçá
bebendo da água doce
na nascente do lugar

pra que tanto julgamento
sem tempo pra descoberta?
Vou sentando nessa corda
pra morrer não tenho pressa.

Vânia de Farias Castro.
Imagens Google.

ORVALHO

ORVALHO
para Brisa.
Vânia de Farias

Uma gota de orvalho hoje caiu
de meus olhos cansados da afazia
recordando as manhãs e noite frias
de um tempo em que não te conhecia:
egoísmo soez, chaga do mundo


outra gota caiu em direção
aos meus lábios calados em unção
sem vontade de rir ou de cantar
proferindo sentida oração

outra gota pousou em minha face
ao lembrar-me daquelas cálidas tardes
em que juntas bordávamos o enxoval
dos filhinhos retornando da viagem
pelos campos da erraticidade

o meu rosto se inunda de saudade
da mudança que chegou sem o alarde
transformado um botão em rubra flor
e deixando-me enrijecida de torpor

constatando como se desperdiçou
nos dentes das feras vis e vorazes
na calúnia, injúria maldição
olhos vítreos em minha direção

enxergando o que eles mesmos trazem:
dubiedade, preguiça em pensar
entregaram seus cérebros sem pesar
desistindo da razão e suas chaves

sinto o sol aquecer meu rosto lívido
em carícia me trazendo o alívio
colocando essas dores no olvido
e te vejo sorridente a decifrar
os enigmas da amiga a te mostrar
que o amor nos afasta dos abismos

Vânia de Farias Castro.
Em abril de 2017
Imagens Google.

terça-feira, 4 de abril de 2017

DEPRESSÃO E PRECONCEITO

DEPRESSÃO E PRECONCEITO.
Vânia de Farias.

Há poucos dias, uma colega de trabalho, após minha ausência que se dera no dia anterior, motivada por determinada enfermidade, me perguntou se eu estava melhor, e qual a enfermidade que me acometera.
Perguntou-me se eu estivera com rinite, sinusite, gastrite e/ou outros ites. Quando de minhas inúmeras negativas, diante da lista de enfermidades físicas, a mim apresentadas, respondi, não sem certa relutância que estava vivenciando um quadro de depressão.

A querida colega, entre enfastiada e incrédula, afirmou peremptoriamente que - "aquilo" era coisa de minha cabeça, e que eu teria que tirá-la da mesma o mais rápido que eu pudesse ou melhor que eu quisesse.
Essa foi uma das poucas vezes em que eu não me senti ofendida com a total falta de conhecimento da mesma em relação a uma doença mental que hoje é tão falada, discutida, chorada, explicada e discorrida por leigos, paciente, familiares de pacientes, amigos e profissionais das mais variadas áreas, e ainda por especialistas competentes.

A OMS, alertou recentemente que em 2030, será a doença que mais incapacitará o indivíduo, portanto não consigo entender como numa época em que todos estão conectados no Facebook, Google, WhatsApp, YouTube, e outras redes de longo alcance, como ainda não prestaram atenção ao tema tão antigo, quanto a vida humana, e tão falado na sociedade hodierna, já que alcança um número imenso de pessoas, mais precisamente, segundo a OMS, (Organização Mundial de Saúde )121 (cento e vinte e um)milhões de pessoas em todo o mundo.

Vale acrescentar que o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking da prevalência da doença em países em desenvolvimento
A doença não deixa marcas aparentes, é impossível de ser diagnosticada por exames de imagem e, confundidos com uma tristeza normal, resultado de algum insucesso na vida do paciente, os sintomas podem passar despercebidos. Mesmo assim ou por esse motivo, a depressão é a quarta principal causa de incapacitação em todo o mundo e, de acordo com projeções da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2030 ela será o mal mais prevalente do planeta, à frente de câncer e de algumas doenças infecciosas.
Hoje, segundo um estudo epidemiológico publicado na revista especializada BMC Medicine, 121 milhões de pessoas estão deprimidas. Para se ter uma ideia, é um número quase quatro vezes maior do que o de portadores de HIV/Aids (33 milhões).

Quando redargui que ninguém consegue tirar da cabeça os sintomas de um câncer, a mesma me respondeu que o câncer é "diferente, é real," (segundo a visão da mesma), mas que a depressão é da mente, e que podemos tirá-la se assim o quisermos.
Pedi-lhe com um sorriso, amarelo-esverdeado que a mesma não apresentasse esse método de cura para os portadores de depressão que se lhe apresentassem, uma vez que o paciente desavisado poderia se manter ilhado em sua angústia, opressão e desânimo, e não procurara ajuda profissional, agravando muito mais o seu quadro, eis que poderia acreditar que a culpa pela enfermidade seria sua, e portando por não ser capaz de tirá-la da cabeça, se sentiria mais incapaz do que já se encontrava.

Sempre me interessei e me senti sensibilizada pelos portadores de enfermidades, que além dos sofrimentos inerentes a doença, ainda sofriam com os dardos do preconceito e discriminação, como já ocorreu com os portadores da hanseníase e mais recentemente com os portadores de HIV, sem atentar que existe uma doença, que apesar de não causar repulsa ou medo do contágio, causa escárnio, achincalhamento e zombarias, que é a Depressão.

E mais, a depressão é uma enfermidade que quase todos, sabem o segredo da cura, sua origem (quase sempre é fruto da vontade do enfermo)e suas implicações, que geralmente são morais, mas que não percebem os sintomas quando um seu familiar enferma, e só percebem quando o mesmo atenta contra a própria com sucesso, ou insucesso?

Vânia de Farias Castro.
Em abril de 2017
Imagens Google.

MOMENTO SINGULAR

MOMENTO SINGULAR
Vânia de Farias.

Lembro-me amigo, de momento singular
sofria de desamparo, desnutrição nuclear
desconfiava da terra e seus terríveis dragões
roubavam naquele instante, o fruto de meu trabalho


foram anos de labuta dispensando o agasalho
do descanso, da inércia, dos sentidos embriagados
das férias e dos finais de semana emoldurados
com os sóis, dos devaneios, dos festejos sem horários

mas eis que chega a hora, do algoz a me cobrar
se considera o senhor, daqueles bens a julgar
por sua pressa em tomar, de assalto, o que pensei
me pertencer, desde antes, da hora em que acordei

Sentia-me acabrunhada, sem entender tal sinistro
como se tira do outro, e parte com o feio fito
em busca de outros tolos, ingênuos, despreparados
e largam o desfalcado, ao relento na estrada

abatido, sem um rumo que lhe tire do letargo
Apresento-te o quadro dos que ficam ao abandono
da sorte e seus asseclas, neste mundo de enganos
mas naquela triste noite, aconteceu o impensado

assistindo ao espetáculo, de Sivuca em seu reinado
de sons, cores e magia, dançando em seus teclados
seu grito de agonia, por ter um dia amargado
a decepção soberba, em seu peito, então minado
pela revolta surda, dos que são ignorados

Mesmo assim, com emoção, vencendo o mal sofrido
nos brindou com um espetáculo, dos mais belos já ouvidos
pela plateia em êxtase diante daquele anjo
com a farta cabeleira, adornando os seus anos

seus dedos ágeis, firmes, nos invadindo de assombro
presenteou essa terra, com acordes, melodias
invadindo nossas almas, de gratidão e alegria
e a noite se fez festa, diante da galhardia

com o mestre a ensinar, desapego e altruísmo
Entendi entre aturdida e perplexa quase em transe
que não existe no mundo quem consiga nos tirar
o que trazemos na alma, sentimento, emoção

deslumbrados ante o belo, e repleto o coração
da magia do encontro, sem a tarja da ilusão.
quem poderia roubar, o instante de magia?
de ternura e gratidão, por aquela melodia
ofertada com ternura por alguém que conhecia
o abandono, o descaso, ostracismo de um dia?

E a noite se fez festa nos recessos de minha alma
não precisava de teto, cobertor ou de agasalho
se eu tinha o sentimento, me cercando de amparo
de alegria sem jaça, me devolvendo a calma.

Vânia de Farias Castro
em abril de 98
Imagens Google.

DANÇA DA SAUDADE

DANÇA DA SAUDADE
Vânia de Farias.

E fiquei assim, a esperar
que voltasses para minha companhia
e beber daquela agua fria
bem guardada na jarra da memória


fiquei assim, por longas horas
longos dias, e frias madrugadas

quando o dia se abriu na alvorada
descobri que a espera não valia

não voltarias mais, não sobrou nada
dos longos anos, tormentos e alegrias
em que escutei com atenção os teus lamentos
e alimentei tua esperança já faminta

com os meus sonhos costurados com rami
na velha colcha de retalhos coloridos
e hoje fico aqui, sem o abrigo
do nosso tempo de inocência e dos reveses
das tardes claras, nas areias da emoção
movediças que enterravam nossos pés

Felicidade, almejei como a ti
desejei te beber em grandes goles
e aos bocados tu me davas qual avaro
sem atentar pro faminto que  se encolhe

de agonia, lentidão nos pensamos
retornando, aos lugares conhecidos
dessa saudade que ora fala em meus ouvidos
não me deixando opção, senão o grito!

Peço-te louca, que partas pros outros cantos
pois necessito, que a paz faça morada
em minha casa, há muito abandonada
pelas benesses, da alegria enamorada

dos escolhidos, homens livres desse mundo
sem os grilhões da paixão, a lhes prenderem
peço que partas, com a pressa com que chegas
a assombrar os corações de teus eleitos!

Vânia de Farias Castro.
Em março de 2008
imagens google

domingo, 2 de abril de 2017

HÓSPEDE VOLUNTARIOSA

HÓSPEDE VOLUNTARIOSA
Vânia de Farias

A raiva puxou a cadeira
e sentou determinada
me encarou de frente e não quis sair
convidei-a delicadamente
a se retirar de meu domicilio mental
a mesma é decidida:
sairá após uma conversa esclarecedora

Não aceita tergiversações
nem delongas
quer que eu entenda seus motivos
e o que a mobiliza.
Caso contrário, não sairá.

Tento em vão, uma conversa amena,
de vizinhas que se sentam
prum café com bolo de milho.
Sirvo-lhe com a melhor xícara
que acabei de lavar...

Limpei toda a poeira que há muito
se instalara na mesma com desenvoltura.
Mas nada adiantou meu cuidado
e momentâneo requinte
a raiva é senhora de si
e cheia de desejos inconfessos
não se interessa por formalidades
nem com sofisticação de improviso.
Detesta hipocrisia...

Ah! Agora entendo sua motivação
pelo menos, temos alguma coisa em comum:
não tolero também hipocrisia.

Estive cercada de pessoas gentis,
mas que num contato mais próximo fui
surpreendida com um animal zanho e arisco
ou pior: pronto para morder minha garganta
num salto rápido e certeiro...

Me livrei por pouco
entre aturdida e assustada.
A criatura simulada que consegue enganar
a quase todos naquela vila
carrega no peito uma cruz de pinho
tentando ostentar pureza e pacificação
que num lapso de segundo se evade
mostrando a cara simulada e agressiva.

Nunca se envolve com qualquer assunto
que não venha a lhe auferir
vantagem ou encômios...
Como é fofa e elegante a tal cobrinha
e só percebemos suas enormes presas
quando estamos muito próximos
e descuidados, claro!

Mas da mesma forma que se mostram letais
e em sinuoso movimento,
se retraem
guardando seu veneno
para outro momento que se fizer necessário.

Entre a raiva e a estupefação
tentei me recuperar sem sucesso
aquela aparição medonha
ainda me causa calafrios
todo o meu corpo se contorce de dor e agonia
diante de minha incapacidade de raspar
camadas e camadas de verniz social
mostrar a madeira podre
e corroída pelos cupins
da soberba, indiferença e do egoísmo.

Sua voz é mansa e me parece
quase um miado
Uma gatinha manhosa,
recebendo e dando carinho
a quem cruzar o seu caminho
contanto que não se aproximem muito

eis que se depararão
com uma enorme fera
pronta para abocanhar e estraçalhar
sem qualquer fome
apenas pelo prazer de matar, de destruir.

Pensei em me matricular
numa igreja dessas
quem sabe a mesma que a serpente frequenta
para fazer um curso de hipocrisia,
e aprender a identificar
suas manhas e requinte
na arte do simulacro

Alguns agentes da UAC
(Unidade de Análise Comportamental)
estudam o comportamento do criminoso
para entender suas motivações
para então conseguir caçá-lo e prendê-lo

acredito que numa igreja dessas
aprenderei como sente
e principalmente como pensa
uma narcisista impostora daquele calibre
e eu possa enfim, rasgar sua alva túnica
e mostrar os andrajos
que vestem um corpo
já inclinado para baixo.

Quem sabe um dia
poderemos prendê-la nas redes
de sua própria indiferença e hediondez.
Agora percebo
a minha hóspede se preparando para sair...

Vânia de Farias Castro.
Em março de 2017
Imagens Google.

VERNIZ SOCIAL

VERNIZ SOCIAL
Vânia de Farias.

Meu amigo me desculpe
mas meu limite chegou
tenho tentado há tempos
conviver com o que restou


de humano e cordial
que poderia existir
nas relações dos iguais
que tentam em vão dormir

com a cabeça caída
em travesseiro de penas
mas não podem eis que são
sacudidas pelos ares
e as muitas tentativas
sequer valeram à pena

lembro o réptil peçonhento
chegando sem qualquer alarde
discreto quase elegante
esperando o momento
de destilar o veneno
e sair qual um covarde

jamais se viu um barulho
um uivo ou mesmo urro
são exemplo de elegância
deslizando pelo mundo

rastejam em sua imundície
envenenando os incautos
que sequer percebem antes
que serão o seu repasto

são as vítimas desses répteis
homens simples, sem verniz
mas que cedo se lamentam
quando salvos por um triz
de seu veneno cruel
com aparência de mel

Desculpe-me amigo estou farto
de tanta hipocrisia
quem grita sem embaraço
suas dores e alegrias
é acusado de louco
sem qualquer educação

esses santos do pau oco
se pintam como irmãos
ostentando um crucifixo
em seu peito moribundo

são os novos fariseus
cuidando tão bem da forma
mas esquecem da essência
da fé que jamais professam
porta vozes da indecência
enganam e fingem com pressa

são camadas de verniz
em sua epiderme suja
laqueados feito um jarro
carregando a lama pútrida

indivíduos cegos e surdos
para os problemas dos outros
e se calam no momento
que são chamados ao confronto

Isolam-se em seus castelos
de areia movediça
ferindo com voz suave
com suas mordazes críticas

logo após, se enrodilham
no próprio corpo e rabo
e só voltam a agir
quando chamados ao palco

da vida e seus atores
tão toscos, quanto infames
e esses répteis brilham
com suas línguas infames.

Desculpe-me amigo
estou farto!

Vânia de Farias.
em março de 2017
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LEVANTA-TE

LEVANTA-TE
Vânia de Farias.

Acorda homem parvo amolentado!
levanta dessa inércia e covardia
enquanto deitas em leitos alvejados
os donos do poder te seviciam


mas não percebes o mal a ti imposto
deitando a sombra de teu egoísmo
enquanto a dor visita o homem tosco
tu pensas que estás livre do inimigo

levanta ó pátria em mil, despedaçada
pelos bastardos filhos da loucura
gargalham num esgar desesperado
dementes em febril desenvoltura

tu és nossa esperança de futuro
plasmada no passado de outras lutas
espero em ti, a honra dos heróis
que derramou seu sangue com bravura

acorda desse sono envenenado
em que o egoísmo te prostrou
levanta vai em busca da vitória
sobre teu senso comum inferior

Vânia de Farias Castro
em março de 2017
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NOSSAS RUGAS

NOSSAS RUGAS
Vânia de Farias

Nossas rugas, hoje bem forjadas
pelas lutas e alegrias do passado
pelos ventos que rasgaram num orgasmo
todo o medo, escuridão do turvo mundo


E vivemos intensamente e aos bocados
cada vida que chegava em nossa porta
os minutos, transformados em largas horas
com a sonda penetrada nos segundos

e sentimos, como sente o condenado
esperando pela ultima refeição
não havia tempo para por de lado
nem tampouco para tergiversação

e olhamos como o apaixonado
ver o outro objeto da paixão
sem reservas e sem medo de pecado
sem mentira, sem remorso ou tensão

E tivemos alegrias e tristezas
longas horas de ternura e afeição
mas também o sofrimento inesperado
que enfrentamos com determinação

Vânia de Farias Castro.
Em março de 2017
Imagens Google.

O DEVER

O DEVER
Vânia de Farias.

Estou a pensar no dever
no dever
no dever
no dever de viver
de viver
de viver


No dever de sorrir
mesmo nas incertezas
da amonia em que estamos
Mas há tanta beleza
pois o nosso dever
é sorrir
é sorrir

como o velho palhaço
não obstante as dores
cumprem com seu dever
de trazer alegria
pra quem esteja ali

Se o mundo é um palco
pra que servem os dramas?
Nos fazer refletir
refletir
refletir

que o drama faz parte
de nosso viver
que a dor é inerente
a nossa condição
de ser
de ser

No palco há tragédias
que possamos enfrentar
as vítimas caídas
que possamos ajudar
a poder levantar

quem no palco trair
é preciso auscutar
o que trai, trai a si
não ao outro, seu par
onde mora o dever
onde fica seu lar?

em um mundo distante
não podemos alcançar?
o dever mora aqui
bem pertinho de mim
o dever mora aí
bem pertinho de ti

o dever mora lá
bem alhures, quiçá
que possamos cumprir
com o dever de amar
o dever de seguir

e cumprir o dever
de entender
de entender
de amar
de amar.

Vânia de Farias Castro
em 05 de março de 2014
imagens google.

ALVENARIA DE CACOS

ALVENARIA DE CACOS
Vânia de Farias.

Dos cacos de minha revolta
ergui uma imensa parede
entre um e outro, cabeças de bonecas
asas de anjos, de borboletas...


A porcelana cortava meus pensamentos
que se misturavam e se contorciam
entre a dor, o ciúme e a ira
algumas gérberas, jaziam no chão
e suas pétalas, antes sorridentes
e viçosas num vaso de cristal
agora jaziam entre a tristeza e perplexidade

também eu, compartilhava desses sentimentos
todas aquelas peças de louça,
vidro e cristal, agora perplexas
estavam se perguntando

o que havia acontecido comigo e com elas
afinal, foram cuidadas e amadas por anos
e agora, todas ali, misturadas
num alucinado quebra quebra

também perderam suas identidades
na dor da traição
Sim, também se sentiam traídas
e humilhadas, e seus pedaços
formavam um mosaico estranho e caótico

O caos também se instalara em mim
entre a confusão da descoberta
e a constatação de que fora enganada
desde os dias primeiros

os dias da inocência e ingenuidade
Afinal, também eu, havia sido cuidada
como uma bonequinha de porcelana
como um bibelô, que se decora o quarto

ou mesmo um troféu de cristal nas mãos de um impostor
que nada fizera, para ostentar aquele troféu
apenas simulacro e enganação,
mas eu, a semelhança de um biscuit
me sentia segura, em ser mimada
sem cogitar, que também era enganada.

E agora, vejo essa imensa parede
feita de cacos e argamassa
e preciso destruí-la, e deixar esse espaço maior
esta opressão e confusão
já não fazem nenhum sentido para mim
deixei de ser biscuit e me tornei mulher.

Vânia de Farias.
Em março de 2017
Imagens Google.