terça-feira, 17 de novembro de 2015

ATRAQUEI MEU BOTE

ATRAQUEI MEU BOTE
Vânia de Farias
Atraquei meu bote agora há pouco
cansei de navegar contra a maré
desci, caminharei a pé...
sem direção, viajarei a toa.

Se quiser me seguir
segue a garoa:
chuva que fina, mas me corta inteira
se quiser me ver forte, seja dor
se quiser me ver bela, seja amor.
Estarei te esperando na alvorada
há luz lá fora, eu vi pela janela
se quiser me ver vento, ser verão
se quiser me ver flor, seja canteiro
estarei te esperando o ano inteiro
que sejamos primavera em janeiro
te espero com o Chico e o Manoel
e cantaremos nos recifes lá da Penha.
Nosso encontro se deu para que eu visse
que o mundo era pequeno até então
me mostrasses Simone e Jean.
Existência, e pura inspiração
No balanço final, já anciã
percebi que há vida no amanhã
e tentei imitar a elegância
de mulher imortal mesmo que todos
os seus homens fossem um tanto
quão mortais, que sorvessem
o líquido imorredouro.
No ensaio escrito sobre o tempo
vi que hoje, não difere quanto a Sêneca.
Nas miragens de minha inocência
esperei mais respeito ao ancião
mas só vejo desrespeito e indecência.
Mas por fim, entendi que hoje somos
o que serão os homens de amanhã
e nem Sartre, com seu brilho mostrará
diferença entre a tarde e a manhã.
Dormiremos extasiados de poder,
de orgulho, vaidade, arrogância
e acordamos com ressaca ao saber
que os vermes são maiores na balança:
quando o corpo abandona esta vida
sensações, percepções, e agonia
e em nosso esquife somos vítimas
de pequenos seres em euforia
a comer nosso corpo num banquete
numa festa com repasto sem requinte
vibriões passeando pelos órgãos
que cuidamos com empáfia e mania.
Vânia de Farias.
Em 18 de outubro de 2015.

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