sexta-feira, 3 de novembro de 2017

MEU CASTELO ASSOMBRADO

MEU CASTELO ASSOMBRADO
Vânia de Farias.
Foram chegando os convidados:
bruxas, duendes, vampiros e outros do estilo
é só uma festa, não vale maldade
agora é o momento da felicidade

acendam as luzes! - mas como?
me perguntaram. Hoje é tudo diferente- respondi
ninguém desaparecerá... A luz apenas
mostrará que não há vilões
somos todos iguais, convivas e anfitriões:
viemos de trem, de balsa, de barco
cavalo, de trena, enfim, voando nas asas
de um morcego branco, albino...
Mas chegamos, e vejam: somos lindos...
diferentes, mas lindos, uns sofreram
decepções acerbas, foram traídos
pelos que mais amaram, pelos que
mais confiaram, mas convenhamos
ninguém é perfeito, nem mais que perfeito
e pretérito perfeito muito menos...
KKKKKKKK, todos gargalharam
menos os duendes que estavam
mais preocupados em copiarem
as fantasias... Eram duendes estilistas
percebi que havia um duende mais velho
quem sabe o mestre, e todos acorriam
para lhe pedir alguma coisa:
um espelho, um colar, um chapéu
eu mesma pediria as botas... Adoro botas
gosto também de chapéus
mas não sou duende. Sou uma mulher
não sou moça nem velha, as vezes me sinto
criança... como os duendes.
Pois bem: quando as luzes acenderam
ninguém se desmanchou em gosmas
ninguém se quebrou
nenhum esqueleto apareceu
só sorrisos, todos apresentaram belas faces
lindos corpos, uns, um pouco apertados em
seus espartilhos, roxos, ou rubis
outros: os homens com fraques lindos
smoking e gravata borboleta,
bordadas com as iniciais
e brasões de antigas famílias...
Eram homens de tradição...
E agora querem ser vilão, não! não!
Na minha festa não! Só alegria
e boas lembranças... Muita bonança
a mesa está cheia: doces, quindins,
tapiocas, sorvetes, bolo de mandioca
alfinim, da cor do morcego estacionado
lá na frente...
Vamos festejar, é HALLOWEEN. TIM TIM!
Vânia de Farias Castro.
em 23 de outubro de 2015.

CIDADE DOS MORTOS

CIDADE DOS MORTOS
Hoje fui ao cemitério
olhar túmulos, ver saudade
fugir das minhas paragens
entender os que se foram...

Suas mágoas, seus amores,
seus sonhos e seus receios
será que poderei vê-los
mesmo noutra dimensão?
Que condomínio estranho
moram tantos diferentes
lá fora aos indigentes
era negado, um olhar
mas aqui nestes castelos
pequenos e até singelos
moram juntos a partilhar
de um dia especial:
as visitas vem chegando
flores bonitas e frescas
ali no canto uma lágrima
e algumas velas acesas.
Uma mão posta em prece
pedindo por suas almas
seus pedidos encaminhados
ao Mestre Amado Jesus.
Fico a pensar: mundo estranho
alguns rostos tão bisonhos
que até parecem zangados
não esqueceram o abandono
a indiferença, o engano
a que foram relegados.
Mas o que fazem aqui?
Ainda estão se punindo
se em vida, seus afetos
foram ausentes, imprudentes
melhoraram então partindo?
Bem melhor voltar para casa
orar pros meus entes queridos
sei que aqui não estão
sempre estiveram comigo!
Vânia de Farias
Em outubro de 2015.

FESTA DOS MORTOS

FESTA DOS MORTOS
Isto é coisa de latino!
Exaltar os seus defuntos
mamãe dizia que o homem
quando vivo for traquino

quando morto, não haverá
quem o faça melhorar
posto não ser possível
mudança em outro mundo
de repente ou in opino.
Fico a pensar: que loucura!
Tanta gente em alvoroço
uns passam o dia inteiro
trazendo até o almoço
fazem um grande piquenique
se arrumam, se enfeitam
conversam com os amigos
na companhia dos mortos
Fazendo grande esforço
para mostrar aos presentes
conhecidos e parentes
como amavam aqueles corpos.
Será que oram por eles
sentem mesmo gratidão
seguem seus ensinamentos?
As vezes penso que não
Uns blasfemam, sentem ódio
falam muitos palavrões
mandam os mortos pro inferno
se enfurecem, gritam alto
que mijarão no caixão
Mas no dia de finados
compram velas, pintam túmulos
desde cedo, se enlutam
num teatro absurdo
acredito que o remorso
chega cedo, pulo o muro
que há muito fora erguido
entre o vivo e o defunto.
Tenho uma tia que berra
lembra das muitas traições
do abandono, que um dia
fora vítima sem ação
chegando a enlouquecer
sem juízo e sem um pão
para dar as suas filhas
crianças, naquele chão.
Chama o morto de maldito
manda pros quinto do inferno
xinga, entre louca e aflita
não encontra refrigero
Mas no dia dos finados
compra velas e muitas flores
quebra até o seu cofrinho
pra evitar dissabores
se enfeita, limpa o túmulo
ou a cova onde os ossos
do morto fica quietinho
não sei se vendo o alvoroço
a grande festa montada
para os velhos e para os moços
todo mundo se encontra
bate pato, riem alto
mostram pros outros na praça
como amam alma penada!
Eu não sei se rio ou choro
mas acho muito engraçado.
Vânia de Farias.