quinta-feira, 15 de março de 2018



Fui questionada por uma amiga virtual sobre a postagem da notícia do suicídio de uma jovem colega advogada, acreditando a mesma tratar-se de um lapso de minha parte, e pedindo-me com muito carinho e quiçá envolvida por forte emoção e pesar que eu repensasse minha atitude e retirasse a notícia adrede publicada e por mim compartilhada.
O argumento embasador do comovido e estranho pedido, foi o de que A DOR DO OUTRO NÃO SE ESCANCARA ASSIM (grifo nosso), se negou até a "falar" sobre a publicação questionada e objeto de sua bem intencionada CENSURA.
Quero esclarecer que se a nobre amiga se refere ao falecimento da jovem em decorrência de autocídio, saiba que publiquei com o fito de alertar às pessoas sobre a gravidade da depressão que vem ceifando vidas ao longo dos anos, sem que as mesmas se detenham no exame e cuidados para com os portadores de tão grave enfermidade.
Acrescento ainda que também sou vítima desta terrível e cruel patologia, entretanto alguns familiares e "amigos", acreditam que seja frescura, mimo ou pasmem! Preguiça, mesmo reconhecendo que sou hiper ativa e Workaholic e por este fato também me rotulavam ou ainda me rotulam de louca.
Certa feita uma prima com um sorrisinho cínico , me informou que não sabiam que um jovem primo - da mesma "maravilhosa família"- sofria de depressão e só vieram a acreditar quando o mesmo cometeu suicídio.
E mais, a partir do momento em que deixarmos de publicar eventos dolorosos sobre tão frágil argumento, estaremos calando nossas vozes para todas as atrocidades e crueldades cometidos por humanos contra seus semelhantes.
Calaríamos diante do assassinato de ISABELA NARDONE, de ARACELY, de DANDARA, do ÍNDIO ainda infante que teve sua frágil garganta degolada, de JOÃO, que foi assassinado por esperar algumas sobras de alimento na calçada do habib's, de ELISA SAMUGIO, da POETA VIOLETA FORMIGA, FERNANDA RODRIGUES DOS SANTOS, de 40 anos, assassinada com um tiro no peito enquanto dormia sob uma marquise na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, na zona sul da capital fluminense.
Vale lembrar que essas vítimas também tinham famílias, amigos, colegas e outros entes queridos, e que os mesmos ainda sofrem sob os rigores do luto, revolta, dor e saudade, e não podemos alimentar a crença de que a dor só dói quando se trata de um parente, conterrâneo ou um familiar predileto ou útil pela pela ótica distorcida de uma sociedade de consumo e egótica!
A especialista no tratamento de padrões mórbidos de relacionamento amoroso e no tratamento de viciados em drogas lícitas e ilícitas , Robin Norwood, no livro MULHERES QUE AMAM DEMAIS, afirma ser impossível em apenas um livro abordar os inúmeros tipos de família doentia, não obstante ser importante entender que O QUE TODA FAMÍLIA DOENTIA TÊM EM COMUM É A INCAPACIDADE DE DISCUTIR PROBLEMAS ENRAIZADOS (grifo nosso).
"Há problemas que são discutidos, exaustivamente, na maioria dos casos, e eles ocultam frequentemente os segredos subjacentes que tornam a família desajustada."
Ora, se ampliarmos essa afirmação para um grupo maior, ou seja, para nossa cidade, estado ou país, veremos que esse tipo de dinâmica é muito comum, que tendemos a calar ou sussurrar quando o assunto ou conflito nos incomoda, e ficarmos silentes e confortáveis é pouco, precisamos calar outras vozes que se arvoram no direito de levantar toda ou a mínima sujeira que jogamos cinicamente para debaixo do tapete!
"É o grau de discrição, de segredo, - a incapacidade de discutir problemas-, e não a seriedade dos mesmos, que define tanto o grau de desajuste da família quanto a gravidade dos danos causados a seus integrantes.
Família desajustada é aquela em que os membros têm funções inflexíveis e a comunicação é seriamente restrita a argumentos cabíveis a essas funções. As pessoas não são livres para expressarem uma série de experiências, vontades, desejos e sentimentos. Têm que limitar-se a desempenhar seu papel, que se adapta aos papéis dos outros membros da família."
Se numa grande, mediana ou pequena família, estes papéis rígidos, -mesmo que ocorram eventos que venham a alterar a sua dinâmica-, como o desemprego do chefe da família, a deserção dos compromissos de um dos cônjuges, ou mesmo a separação em decorrência de óbito, um quadro de depressão em uma bela, inteligente e amável mãe e esposa, ou outros fatores adversos. Se os membros dessa família insistirem em manter os papéis adrede combinados e/ou esperados, essa família se destrói ou leva a destruição, isolamento e morte um de seus membros, que esteja mesmo que temporariamente mais debilitado.
Transcreveremos parcialmente artigo de Laura Aparicio - Pão e Rosas México, A DEPRESSÃO COMO FENÔMENO SOCIAL NO CAPITALISMO, que acreditamos ser útil a título de ilustração:
"Atualmente, o termo “depressão” tem se igualado à noção de tristeza e pouco se entende sobre seu fator social, já que as tendências da psiquiatria abordam a doença a partir de um ponto de vista biológico e individual
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula-se que a depressão afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo, que cerca de 800.000 pessoas se suicidam a cada ano, que 78% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda, e que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
A depressão inclui sintomas como perda do sentido da vida, inibição, desesperança, sentimentos de vazio, infelicidade, um mal estar indefinível e generalizado, desinteresse pelo cuidado pessoal e por atividades que antes eram gratificantes, insônia ou hipersônia, fatiga ou perda de energia, dores de cabeça, transtornos alimentares, diminuição do desejo sexual, dificuldade de raciocínio e concentração, ansiedade, sentimentos de culpa, inutilidade e de um profundo e incontrolável sofrimento.
Algumas de suas consequências são o abandono do trabalho ou dos estudos, conflitos conjugais e/ou familiares, alcoolismo e dependência de drogas; do mesmo modo, a depressão não equivale a suicídio, mas este é uma possibilidade em casos graves. O nível depressivo – leve, moderado ou grave – dependerá do histórico psíquico de cada sujeito e dos recursos com os quais possa contar, como as redes de apoio de familiares e amigos.
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No México, os índices de suicídio aumentaram catastroficamente, já que no ano de 1994 foram registrados 2.603 suicídios, e em 2016 estes números cresceram aproximadamente 200%, com 6.370 suicídios registrados. De acordo com dados do órgão mexicano Instituto Nacional de Estadística y Geografía (INEGI 2017), 41,3% destas mortes correspondem a jovens de 15 a 29 anos e 3,7% correspondem a adolescentes de 10 a 14 anos de idade.

Fonte: INEGI Estatísticas de mortalidade]
Além disso, é importante destacar que 8 a cada 10 suicídios no México foram cometidos no interior de domicílios particulares (76,2%), segundo dados do INEGI.
O tabu da depressão e seu fator social
Parece um paradoxo que, por um lado, o termo “depressão” seja cada vez mais utilizado e igualado à tristeza ocasional, mas por outro siga sendo um tabu que “deve” ser enfrentado em segredo e de maneira individual – como se sua aparição fosse um traço unicamente individual! Tal tabu transforma a depressão em sinônimo de suicídio, o que se torna um risco para os que dela padecem e são vistos com empatia.
No entanto, não é coincidência que a depressão e suas consequências, como o suicídio, tenham se transformado em uma das principais “doenças do século 21” e uma das principais causas de morte – ou que será num futuro próximo –, em especial para um amplo setor da juventude trabalhadora que vê quebradas suas esperanças de ter uma vida digna, já que as condições de trabalho em que os jovens se inserem a cada dia são mais golpeadas.
A depressão tem múltiplos elementos que não podem ser generalizados porque dependem de cada sujeito, como seu histórico familiar e psíquico; contudo, o fator social é determinante no seu desencadeamento e permanência. Como explica Ana María Fernandez em seu livro Jóvenes de vidas grises (“Jovens com vidas cinzas”), não se pode isolar o contexto social que impossibilita à juventude um planejamento de seu futuro, como têm feito as economias neoliberais que instituem na subjetividade uma quebra de esperança coletiva, o que corresponde a “toda uma estratégia biopolítica de vulnerabilização”.
Tais condições não podem ser explicadas sem se compreender o modo de produção capitalista que a cada dia é mais voraz, que busca aumentar seus lucros precarizando e empobrecendo a vida da classe trabalhadora de conjunto – somente no México há mais de 50 milhões de pessoas em situação de pobreza. E é neste cenário que a juventude se insere num mundo competitivo e a cada vez mais individualista – este setor representa um amplo exército de reserva no mundo do trabalho e enfrenta cada vez maiores dificuldades para estudar, já que possui as piores condições de trabalho e menos de 15% dos que prestam vestibulares para a universidade têm acesso à educação.
O transtorno depressivo e seu crescimento brutal parecem mais ser um sintoma de uma época que reflete a pouca esperança em relação ao futuro, causada pelas condições cada vez mais insustentáveis nas quais vive a classe trabalhadora. Não é de se espantar que este setor sinta um profundo desânimo e tenda à depressão crônica ou ao suicídio.
Como mostram os dados, a maioria dos suicídios ocorre no âmbito privado, mas também existem casos em que claramente se nota o determinante social, como aconteceu em 2012 com Dimitris Christoulas, o aposentado de 77 anos que se suicidou em frente ao parlamento grego. Em parte da carta encontrada nos bolsos do idoso que pôs fim à sua vida, se lia:
“O Governo de Tsolakoglou aniquilou qualquer possibilidade de sobrevivência para mim, que se baseava em uma pensão de aposentadoria muito digna que eu havia pagado por conta própria sem nenhuma ajuda do Estado durante 35 anos. E, dado que minha idade avançada não me permite reagir de outra maneira (ainda que, se um compatriota grego sacasse um kalashnikov [tipo de fuzil], eu o apoiaria), não vejo outra solução que não seja pôr fim à minha vida desta forma digna para que não tenha que acabar revirando lixeiras para poder sobreviver. Creio que os jovens sem futuro algum dia sacarão as armas e as apontarão boca abaixo aos traidores deste país na praça Syntagma, como os italianos fizeram com Mussollini em 1945.”
Portanto, está na hora de falarmos e debatermos assuntos sérios, como feminicídio, homofobia, pedofilia, psicopatia, racismo, genocídio, infanticídio, matricídio, parricídio, autocídio, e homicídios, e não continuarmos exercendo os mesmos papéis, cujos scripts, já não nos interessam, a não ser que sejamos tão doentes que nos neguemos a ampliar discussões e procurar soluções para frear essa onda de ignorância, silêncio e por que não dizer conivência com todo esse desequilíbrio que vem afetando a sociedade.
Vânia de Farias Castro.
14 de março de 2018
João Pessoa, Paraíba, Brasil.
Mais uma voz que cala
mais um corpo tombado
os direitos usurpados
pela barbárie, podridão humanas...
Que teremos
por mais uma semana
algumas horas, minutos eternidade
quando será que esta cidade
sairá dos negros porões da história?
quando teremos, voz e vez
sairemos dessa morbidez
dos precipícios da egolatria
sentimentos enterrados na afazia.
Uma mulher, um pensamento
uma virtude
um corolário de honradez e atitude
executada, sem qualquer ordenamento
sem audiência inaugural
instrução ou conhecimento
apenas à execução
pelo poder, de uma gigante nação
apequenada por usurpadores
sentem-se donos, capatazes
senhores
mas são apenas covardes
desordeiros
matando os sonhos
e muitos brasileiros
Apenas monstros
travestidos de humanos!
Vânia de Farias
15 de março de 2018,
um dia após Marielle Franco, ser assassinada no Rio. A mesma era relatora de comissão que fiscaliza a intervenção;. "Dos NOVE tiros, QUATRO atingiram A CABEÇA da vereadora."
Quantos projéteis ainda restam
para acertar nossa testa
nossa fome indigesta
indigência prenha?
Quantas mulheres ainda faltam
com cabeças destroçadas
corpos cobertos de bala
silenciadas pra sempre?
Quantos negros sobraram
das antigas senzalas?
Dos cafezais, capatazes
ainda matam rapazes!
Quantos motoristas ficaram
após inúmeros disparos?
Seus filhos, também crivados
nós todos, aparvalhados!
Quantos civis serão alvos
de violentos fardados?
Nas mãos a morte a cavalo
até o ultimo disparo!
Será que grito ou calo
nessa terra de ninguém?
Oh Deus! Cubra-nos de bênçãos
antes que os monstros vençam!
Vânia de Farias Castro.
15 de março de 2018
imagens:Marielle Franco, ativista social e vereadora assassinada com 9 disparos de fuzil, bem como o motorista Anderson Pedro Gomes, de 39 anos que dirigia o veículo alvejado, em 14 de março de 2018.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Quando se é tiete
perde-se a noção
de valor tempo e espaço
só quem sente é o coração
em loucura e descompasso
Quando ver o objeto
de sua admiração
mas parece um devoto
em sentida oração
cada centímetro é medido
cada milímetro adorado
cada minuto ao seu lado
parece eternidade...
Cada passo em desconcerto
cada acerto logrado
é medido calculado
com escala abençoada
a figura aureolada
pelos olhos de quem ama
admira em demasia
jamais esquece ou abandona
não importa a distância
o tempo claro ou escuro
se há comportas ou muros
tudo é por nós derrubado
o que importa é o achado
de sua lente de aumento
as suas fibras mais íntimas
vibram de contentamento
sente êxtase, entra em transe
ao ver o ser adorado
e suas estripulias
mas parece um bailado
de um hábil bailarino
ou de um ser alado!
Vânia de Farias Castro.
Em 06 de março de 2018
Imagens: Matthew Gray Gubler
Da série: Apenas Mulher
TEMPO DO SONHO
Sou do tempo em que 
lavadas as fraldas de meus filhos
as pendurava nos varais
como bandeiras brancas
a tremularem em direção ao vento
sim, a paz que a maternidade
trouxe ao meu coração
esquecendo as injúrias
ingratidões e perversões
de outros companheiros
nas íngremes caminhadas
em direção ao crescimento.
Sou do tempo em que
enfileirava seus calções
com a emoção de quem
organiza medalhas na alma
compensando as involuntárias
ausências, tão necessárias
e urgentes, na manutenção
de seus pequenos corpos!
Sou do tempo em que juntos
numa pequena sala
assistíamos vários filmes antigos
mudos, em preto e branco
onde os gestos nos falavam
tão alto que ainda hoje
os escuto nos escaninhos
da memória que já falha
nos registros de fatos recentes...
Sou do tempo em que
escutava numa calçada
com olhos e ouvidos atentos
a Dona Dú, velhinha querida
e amorosa que nos tirava
das paisagens a nossa frente:
muros altos, de fábricas antigas
de beneficiamento de sisal
os contos de fadas,
nos eram apresentados
com suas bruxas malvadas,
madrastas invejosas,
numa eterna e asselvajada luta
para manter a juventude,
que agora se esvaía.
Princesas puras e ingênuas,
a espera de um príncipe
que as tirasse daquele martírio
e as levasse para seus castelos
no dorso de um corcel branco.
E em nossas viagens pueris
esquecíamos do pó em nossos pulmões
das tosses noite adentro e alergias
daquele muro cinzento e tão alto
que nos parecia fortalezas
dos castelos medievais
das águas ferventes e coloridas
saídas de seus bueiros
apressadas e com ira, destruindo
a vegetação em volta...
Para nós, eram pequenos vulcões
de cujas erupções, saíam paletas
de cores ferventes e multifacetadas
Ah, sou do tempo do sonho...
Da alquimia, em que transformávamos
uma paisagem empoeirada
pelos dejetos industriais
em castelos antigos
onde poderíamos encontrar
flores coloridas, frutos doces
fadas e elfos a nos receberem
com mesuras e presentes...
Não pensávamos nos operários
cobertos de pó, enclausurados
como brinquedos velhos
e cujos sonhos, recebiam a visita
de pesadelos cruéis, quando
o final do mês, se aproximava...
Pois é... sou do tempo do sonho!
Vânia de Farias Castro
Imagens Google.

domingo, 4 de março de 2018



Já me falaram um dia 
que gosto não se discute
nunca gostei de quitute
em lata como sardinha
gosto de carne fresca
vermelha, quente queimando
gosto de vegetais
fazendo bem ao estômago
meu amigo, eu não gosto
dessa tua ladainha
mas parece fofoquinha
conversinha de comadre
também posso garantir
que não gosto de bobagens
de rótulos ou tatuagens 
etiqueta, malandragem
tentando me definir
sou mulher velha dinâmica
sou fada bruxa, mecânica
construtora ativista
sou mãe, avó, sou artista
sou lavadeira de roupas
cozinheira de mancheia
deixa de coisa feia
ressentimento incabido
ainda sou mãe, sou pai
de meus filhos, hoje homens
nunca vi um lobizomem
nem a mula sem cabeça
mas a tua danação
parece assombração
em noite de lua cheia
vai escrever, vê se cresce
ou procurar tua turma
teorias absurdas
sem qualquer razão plausível
arrebentaram o fuzível
de tua instalação
instalou-se um apagão
em tua cabeça confusa
procura logo um mecânico
eletricista, torneiro
ou pega um candeeiro
vê se enxerga mais longe
nesta terra tem talento
saindo pelo ladrão
tem artista confusão
gente sonsa atrapalhada
invejosa recalcada
repetindo alguns refrões:
espelho olha pra mim
será mesmo que eu sou
o bambambã das paradas?
Vânia de Farias Castro.
Em 13 de fevereiro de 2018
Imagens Google.
Dia do amor...
Recebi uma linda caixa
adornada com encômios
com confetes bordados
em fios de ouro
com adornos em relevo
refletindo calor
paixão, tesão, muitas promessas
palavras requintadas
sofreguidão e pressa
imagens quixotescas
em tintas de prata
peguei com surpresa e descofiança
aquela caixa
meu coração não compreende
os fetiches adornados
se alimenta de carinho e cuidados
de atenção, esforço, gratidão
meu coração não tem pressa
é amigo do tempo, da temperança
do cumprimento da palavra
esperança...
Que um dia acordemos dos pesadelos
da astúcia, covardia, espúrio desejo
da deserção, abandono, desrespeito
Mas que fazer? Recebi
tentei guardar sem abri-la
meu impulso inicial era fugir da armadilha
correr por esses sítios como andorinha
esquecer o crescimento da erva daninha
no coração dos homens que caminham
com indecisão, lentidão e medo
Mas que vejo?
Ao abrir a caixa
sinto meus desejos
evaporaram nesta nuvem plúmbea
na minha mão, só a ador acena
decepção, coberta de rendas
gregas douradas e finas fazendas
guipir prateado, sedas esvoaçantes
caixa de pandora, tosca e arroante
soltando a peste, vorazes gigantes.
Vânia de Farias Castro.
Em 14 de fevereiro de 2018
Como é ruim calar a voz
com o coração gritando
querendo que os quatro ventos
levem seu choro e seu canto
querendo se lamentar
quando a dor lhe visita
mostrando abertas feridas
teimando em cicatrizar
quando quer mostrar pro mundo
seu amor nascendo preso
quais frutos nos arvoredos
já maduros a balançar
amor meu, não vejo a hora
de tocar em teus cabelos
quero a prata em meus dedos
uma aliança formar
com idéias, emoções
atos ternura paixão
nossa valsa então dançar
teus pés quero caminhando
ao meu encontro chegar
amor meu, sempre foi triste
condenar dois corações
as prisões frios porões
sem luz a lhes alcançar
mas sei que nossa desdita
terá um fim qualquer hora
espero que a demora
fortaleça o esperar.
Vânia de Farias Castro.
Em 27 de fevereiro de 2018
Imagens Google.
E vamos juntando com calma
os pedacinhos de fé
esperança confiança
e nossas caras lembranças
costuremos uma peça
novo manto pra cobrir
nossas cabeças perplexas
diante dos novos fenômenos
nossa mente inquieta
nossas angústias com pressa
querendo se alojar
mas com cuidado, quem sabe
costuremos com desvelo
um véu para nossos cabelos
branquinhos ou cor de ébano
com cores de avelã
quem sabe surja o elã
que há muito esperamos...
Enfrentaremos os enganos
as loucuras e paixões:
medo e ingratidão,
inveja competição
ciúme a martelar
corações despedaçados
pelas miragens soberbas
pela nossa avareza
na ânsia de acumular
bens, amores, sentimentos
na voz, apenas lamento
nos olhos apenas lágrimas
na dor, sobrando tortura
na vida só amargura
mas na alma claras águas.
Vânia de Farias Castro.
Em 02 de março de 2018
Imagens Google.
Ontem fiquei assim
nostálgica de nosso passado
teus passos desajeitados
pelo tempo traiçoeiro
eu ainda alimentava
lembranças de outros tempos
em que dançávamos pro ventos
sob o céu estrelado
nossos passos agora toscos
teu olhar triste, assustado
câimbras tolhendo os passos
dores em todo corpo
ontem ainda sonhava
com nossa dança, magia
a saudade entretecia
tua ausência nos tablados
desse palco hodierno
sucursal de outro inferno
por Dante antes mostrado
agora apenas o medo
não sei se uso os cabelos
naturais como a mostrarem
a triste realidade
em que fomos atirados
patéticos desinformados
assustados com o degredo
te vi fazendo ainda graça
de tudo, também de todos
parecias mais um tolo
palhaço sem o seu palco
constrangida então ficava
ao lembrar-me de outros passos
em que pintávamos o bailado
com as cores do desejo
agora apenas medo
do ridículo e do tempo
que nos deixou ao relento
sem nosso sapateado
roubaram nossos sapatos
nosso encanto reinado
estamos apavorados!
Vânia de Farias Castro.
Em 04 de março de 2018
Imagens: Filme Ginger e Fred
Sim, preciso partir
que vivas sem o constrangimento
de minha presença
Aqui, fico a sofrer a dor de tua ausência
meu sangue a jorrar da lâmina fria
Mas que fazer?
Cheguei tarde pro banquete
e sequer fui convidada
agarrei-me em teus sonhos
mas só te trouxe mortalha
fiquei presa a ti como escafandro
e agora verto o fel do abandono
saudade grita solta qual cavalo
selvagem, sem dono.
Vânia de Farias Castro.
Em 22 de fevereiro de 2018

HORROR

HORROR
Que horror!
Como se queima uma criança
e ri de seus estertores?
Nesse palco de horrores
quando haverá humanos?
De quantos crimes enganos
se alimentarão ainda
por que hoje predomina
hedonismo bizonho?
Monstros fardados, paisanos
de todo tipo e espécie
quando será que a peste
hoje instalada no mundo
cessará, dando espaço
para seres cujos atos
serão exemplo a seguir?
como entender quem sorrir
vendo um índio queimando?
Que prazer mórbido, sujo
fruem esses monstros imundos
escória de vagabundos
répteis a rastejarem...
Existem outros lugares
onde repousar a mente
hoje em caldeira fervente
ao ver tamanha imundície?
Quero saber quem me disse
que há esperança pros homens!
Vânia de Farias Castro.
Em 23 de fevereiro de 2018
Imagens: criança – da etnia awa-guajá, queimada ainda vida, por monstros travestidos de humanos.

Estou Feliz



Estou feliz...
Dói em mim tua ausência
mas a lembrança aquece
minhas mãos postas em prece
em gratidão ao universo
bem queria nesses versos
falar do quanto te quero
admiro-te, espero
nosso banquete e festa
espero ainda a alvorada
clareando a noite escura
posto que minha ventura
está banhada por lágrimas
mas és meu amor menino
nas traquinagens das ruas
nas paisagens agora nuas
de nosso amor descoberto
sinto-me escravo liberto
quando encontro-me em teus braços
minha mente já desperta
por teu exemplo de homem
digno sem megafone
alardeando teus passos
teus feitos, tuas medalhas
na luta contigo mesmo
és herói, não mamulengo
em mãos manipuladoras
protagonista das dores
mas também das descobertas
de nossos passos em festa
alacridade pueril
és a pólvora o barril
o fósforo e a fogueira
és ainda a esteira
onde repouso meu corpo
quero ser o teu conforto
após tormentosa noite
não enfraqueças com os açoites
espero-te pro recomeço!
Vânia de Farias Castro.
Em 25 de fevereiro de 2018.
Imagens Google.
Eu fiquei assim a esperar
para ouvir outra vez a tua voz
sentir mais uma vez que somos nós
o amor, a ternura a doce dança...
Eu fiquei aqui a amargar
o vinagre que hora bebo à revelia
esperei por teus olhos mais um dia
a velarem os meus sonhos acordados
sinto ânsia, uma angústia atormentando
meus gritos em estertores de engano
meus pés, enregelados nesse barro
meus pelos eriçados de abalo
meus sons hoje abafados em silêncio
já não sei por quanto tempo eu aguento
caminhar qual ébrio triste em agonia
só queria tua voz que acaricia
meus ouvidos, mesmo estando calada
fica o nó em minha garganta entalada
pela dor, solidão e desespero
vejo a noite chegando em meu espelho
qual narciso me afogo nesse lago
qual Yago, sinto inveja do abastado
pelo amor e aconchego abençoado!
Macbeth de ganância amortalhado
Dorian Gray em seu espelho aprisionado.
Vânia de Farias Castro.
Em 24 de fevereiro de 2018
Imagens Google.
Coloquei os meus lençóis para quarar
quero-o limpos, alvejados como a neve
peço a Deus que nos proteja dos revezes
que hora apontam para negras ventanias...
Coloquei os meus lençóis para secar
sob o sol, com missão higienizadora
retirar de nosso cosmo os miasmas
pensamentos atitudes destruidoras
Coloquei meus pensamentos a pensar
como é dura a existência de quem ama
quando vê a tentativa de apagarem
toda luz irradiada de sua chama
Coloquei a minha voz hoje a calar
em silêncio, em sincera oração
quero ter a companhia do irmão
ajudar em sua dura caminhada
só assim sairei da solidão
em que os egos agigantados me jogaram
atiraram-me nas arenas com leões
sacrifício foi pedido por me amares
hoje o sol, limpará toda essa roupa
não há mancha que ele não alcançará
levarei meus pensamentos pra quarar
e quiçá retornarei aliviada
Vânia de Farias Castro.
Em 04 de março de 2018
Imagens: Google.