segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Pequenos Grandes Sonhos


 

Pequenos Grandes Sonhos
Os sonhos dele cabiam todos num pequeno vidro, sabiam?
Sonhava em ver sua filhinha crescer
como crescia seu amor por ela
Sonhava em poder manter sua família
não preocupar seu primeiro e único amor
também o último
sonhava com um mundo mais justo
Comungava com Pasolini, assustava com o consumismo
o monstro vinha à galope, faltava-lhe forças para enfrentá-lo
Fazia da compaixão, sua arma mais letal
numa guerra fratricida, solidariedade deve ser combatida com todos os exércitos,
comandados pelos cruéis generais: egoísmo e materialismo.
Seu respeito pelos desvalidos, o transformava num perigoso malfeitor.
Os verdadeiros, malfeitores, espoliadores e pusilânimes
travaram uma guerra desigual e violenta.
Violaram seus princípios
Lutava por justiça social, e respeito ao outro
morreu em combate, combalido e exausto.
Seus sonhos, eram poucos,
caberiam todos num pequeno frasco
Não lhe restou saída, entregou-se ao cadafalso!
Vânia de Farias Castro
Em 13 de novembro de 2021
Imagens Google


 

E o fio de Ariadne se fez firme
flexível e resistente a ação do tempo
sustentando o espírito, ao corpo quente
libertando-o da ignorância e correntes
E o fio de Ariadne se fez torre
protegendo o Eu eterno, no seu templo
escafandro, nas masmorras e torrentes
de águas turvas, nebulosas e ferventes
Os vulcões, em ruidosa ira e fúria
expeliam suas larvas fumegantes
mas o fio de Ariadne se fez chuva
aplacando a loucura estridente...
És o fio de Ariadne que me prende
quando à noite o meu corpo ainda dorme
esse fio, me alarga sorridente
e me mostra a grandeza desse orbe.
Vânia de Farias Castro.
Para Wellington Pereira e a gaita de prata de Jó.
Imagens Google

Ela já foi águia


 

Ela já foi águia, sabia?
Naquele tempo não se preocupava
com os corvos lhe atacando.
Faltava-lhe tempo para se defender
ou contra- atacar.
Estava mais interessada em voar
conhecer as estrelas, modelar as nuvens
 
Ela já foi águia sabia?
Numa época em que corvos e pardais
perdiam a importância 
quando tentavam bicar seu pescoço, ou sua vida, com avidez.
Até ria, das inúmeras e perversas suposições
sentia no íntimo, uma certa satisfação em confundi-los.
 
Gostava de vê-los perdendo um tempo
que poderia ser usado no treino de novos voos,
no fortalecimento das próprias asas
enquanto comentavam sobre as suas, e formas de voar.
 
Dava voos rasantes, para olhar de perto
aquela estupidez e malbaratação
de talento e de horas, dias e até anos.
 
Voava em várias direções
para fortalecer suas asas, 
ou ajudar outros pássaros amedrontados
com os perigos no exercício de voar.
 
Claro que haviam riscos, mas havia gratificantes descobertas
E era feliz desbravando outros horizontes
extasiando-se com outras paragens.
Não olhava para trás, nem se detinha
Haviam muitas águias para voar com ela
E juntas, descobriam as maravilhas do mundo
quanto mais subiam, mais adquiriam 
 forças e aumentavam a curiosidade.
 
Outras culturas a atraíam, 
bem como outros saberes, outros pensares.
Sentia -se bem com outros pássaros
admirava os bem-te-vis,
com suas predileções pelo bom e brioso
por lhe mostrar que devemos focar no belo
alimentar à gratidão e desenvolver a humildade.
 
Eles sempre traziam notícias
das maravilhas que viram e a fortaleciam
exaltando suas qualidades.
Com os canários aprendeu uma forma de estoicismo
continuavam cantando, mesmo que estivessem em cativeiro.
E ainda cantavam alegremente para seus carcereiros.
Sabiam que suas vozes e decisões lhes pertenciam.
Como aprendeu com as andorinhas,
o valor da solidariedade e do apoio mútuo
a voarem grandes distâncias
a sobreviverem, sem a necessidade
de descerem à terra.
 
Ela não entende porque hoje,
após tantas penas caídas, bicos restaurados
períodos de reclusão e renovação
perde tempo com corvos e pardais
e até com cobras, que nem podem voar!
 
Vânia de Farias Castro
Em 15 de novembro de 2021
Imagens Google.