quarta-feira, 11 de março de 2020

Quando o dia acorda
desperta minhas dores
também meus temores
em tempos sombrios...
Quando o dia acorda
cutuca meu corpo
mitiga meu copo
com o último gole
Quando o dia acorda
puxa meus lençóis
sopra meus ouvidos
tirando-me o pó
poeira dos tempos
em que eu sonhava
por essas estradas
em festa e alegria
onde a moradia
da doce esperança?
Será que minhas pernas
já desconjuntadas
tentando, a alcança?
Vânia De Farias Castro
Em 11 de março de 2020
Imagens Google.
As ausências se tornaram presentes
e hoje já as considero dádivas
já as considero liberdade
de suas amarras, sinto-me livre
sem seus grilhões sinto-me ave
As ausências de tão cruéis se tornaram algozes
hoje, sem suas presenças, me sinto suave
sem seus camartelos me sinto inteira
embora as rachaduras, sou mais agradável
As ausências, de tão insistentes atingiram o fito
não ouço o apito em bocas disformes
não ouço seus passos se aproximando
com meus pés tranquilos vou me afastando.
Vânia De Farias Castro
Em 11 de março de 2020
Imagens: Google.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Pois é, hoje é meu dia
mas não esqueço de ontem
quando fui queimada nas fogueiras da inquisição
quando fui acusada de bruxaria, por fazer as beberagens para aplacar as dores físicas dos homens...

Hoje é meu dia, e quem sabe eu receba flores
mas não esqueço das senzalas, quando os meu donos comiam meus quitutes, que aprendi com meu povo, e ainda se vangloriavam aos vadios seus iguais, que me comiam, à revelia de meus sentimentos e desejos, afinal eu era apenas uma mercadoria.

Hoje é meu dia, e receberei presentes
mas é difícil olvidar do dia em que meu marido saiu para comprar cigarros e jamais voltou, desertando dos compromissos assumidos, das juras e promessas e me deixando sete filhos, para criar, alimentar e educar, não esqueço das noites fazendo cocadas e dias, tapiocas, dos temperos secos que minhas crianças saíam a vender para me ajudar no sustento meu e deles próprios.

Não esqueço que minha mãe, negava-lhes um pão velho, numa barraquinha onde vendia cachaça e alguns alimentos, mas que não eram suficientes para ajudar a alimentar seus netos... E acho que ela era mulher.

Hoje é meu dia, e quem sabe receba mil beijinhos cheios de dengo e encômios, mas não esqueço quando fui abandona por todos os amigos, esposo e familiares, inclusive algumas mulheres.
E meus rebentos, quase arrebentados de fome e indiferença, ficaram à míngua de pão, cuidado e afeto, enquanto eu, entre a loucura e apatia, nem lembrava mais se era mulher ou um vegetal.

Pois é, hoje é mesmo o meu dia,
afinal, nos que sobram dos anos, o dias são dos homens, dos machos, e de outras mulheres machistas, que dizem, estão apenas reproduzindo um modelo... Aprendido, já que não aprenderam nem apreenderam o que é solidariedade, compaixão, cumplicidade, mesmo que aparentemente, enfrentam os mesmos paredões de julgamento e fuzilamento, a que todas nós, somos jogadas.

Acho que não quero flores, quero continuar lembrando da hipocrisia, da saia curta que não posso usar, do sub emprego, da tripla jornada de trabalho, afinal sou mulher, o sexo forte, que foi fragilizado ao longo dos séculos, e quando um certo Homem, tentou defendê-las e restituir-lhes à dignidade assaltada, também foi julgado, condenado e crucificado, como continuamos até o dia de hoje: dia da mulher!


Vânia de Farias Castro.
Em 08 de março de 2020
Imagens: Google
E viva a Mulher!

Enquanto não decidirem escolher seus parceiros, amigos, namorados e amantes.

Enquanto não resolverem viver sua sexualidade de forma livre e desataviada, sem medo do julgamento daqueles que jamais choram sua dor, ou sofrem sua fome, seja de justiça, de alegria, ou de feijão.

Enquanto não usarem aquele decote ousado se insinuando para nós, os únicos serem viventes, capazes e autorizados a olhar para elas, que sem nós, jamais atrairiam nem olhar de misericórdia.

Enquanto não ousarem sentar numa mesa de bar ou restaurante sozinhas, a procura de homens ( mesmo aquelas que não gostam de homens) mas como não está escrito em suas testas... E nós, homens de bem, nada pretensiosos, não gostamos nem damos viva, às mulheres oferecidas.

E viva a Mulher!

Enquanto não inventarem de chegar tarde em casa, dando azo aos estupradores, posto que eles são fracos coitados, e não resistem a uma mulher na rua sozinha.

Enquanto não usarem roupas em desacordo com suas idades, eis que mulher velha, jamais devia deixar de usar xales e vestidos abaixo dos joelhos, numa demonstração de recato e respeito às tradições. Afinal elas serão exemplos para outras mulheres, cabendo a nós, somente a nós, homens modernos, cuidar de nosso corpo, malhar, mostrar nossos bíceps e tríceps- afinal, cabeça é pra ser usada por homens, restando às mulheres, se contentarem com algumas bolsas e sapatos, penduricalhos e cosméticos e quem sabe alguns ingredientes para fazer pratos saborosos para nós e para nossa prole.

E viva a Mulher!

Desde que não recebam mais do que nós,
que não frequentem a escola, enquanto as crianças crescem
e quando nossos bebês crescerem,  e elas forem avós, também não haverá mais necessidade de estudar ou trabalhar eis que nossos netinhos, lindos e fofos, precisam de uma avó, atenta e cuidadosa, enquanto nossos filhos, saem para férias ou confraternização com amigos.

E viva a Mulher!

Inteligente e independente - desde que seja a mulher do outro - e que a nossa continue de forno a fogão, de cama mesa e banho, afinal, quando chegamos do nosso trabalho, do jogo ou das biritas com nossos amigos e algumas amigas, claro, nossas meias, cuecas e sambas canção devem estar nos esperando, limpos e alvejados, e não importa se nossas mulheres estarão desgrenhadas e cansadas, afinal tem muitas mulheres na rua, no trabalho, na vizinhança - inclusive a filha do compadre- que já está ficando no ponto... E já temos mulheres em demasia para admirar.

E viva a Mulher!
Porque hoje é 08 de março.

Vânia de Farias Castro.
Em 08 de março de 2020
Imagens Google.
Confissões de um homem maduro

Confesso que até gosto de mulheres
enquanto estão jovens e viçosas
mas quando as primeiras rugas de preocupação
ou ocupação do sr. tempo aparecem, fico enfastiado.


Não tenho culpa, mas gosto de mulher suculenta, como um bom bife, sabe?

Confesso que até gosto de mulheres, desde que se cuidem, que frequentem academia, façam musculação, dança do ventre, da bunda, das coxas, que erradiquem todas as gordurinhas, pois é muito desagradável transar com uma bunda bordada de celulites, e termos que fechar os olhos na hora do clímax, ou pensarmos na atriz da novela das nove, ou na colega de trabalho, pois aquelas sim, se cuidam.

E não importa se também queimem o restinho dos neurônios, na procura alucinada para se manterem jovens e desejadas, afinal manter um casamento por anos é um privilégio que muitas não têm e conseguir um bom amante por outro tanto de tempo é outro desafio, vencido por poucas.
Entendo que neurônios na hora de limpar a casa, fazer a nossa comida, tomar banho e ir pra cama cheirosinha, não se faz necessário, né mesmo?

Confesso que até gosto de transar com mulheres
contanto que elas se vistam de coelhinhas, enfermeiras, tigresas, policiais, arrumadeiras, atriz de cinema pornô... Podem até me algemar, mas não devem transar sem as fantasias, eis que não sei fazer essas coisas com as mulheres como elas são: faço sexo com a fantasia que tenho delas.

Confesso que até gosto de mulheres, mas não daquelas feministas doidas que acham que podem terminar uma relação, unilateralmente, sem sofrerem as consequências. Desculpem a sinceridade, mas o que vejo por aí, acho que elas mereceram...

Confesso que não sei bem quem é Freud, mas não gostei nada quando soube que o aventureiro tentou dar voz às mulheres com seus estudos esquisitos. Laceando as histerias e outras baboseiras. Histeria é coisa de mulher sem macho.

Mulher tem que ficar calada, e falar quando lhes perguntamos algo. Mulher reclama demais, choraminga demais, e se adoece porque ficou longo tempo calada, o problema não é nosso, é que elas são fricoteiras e loucas.

Vou encerrar minhas confissões por hoje, eis que preciso comprar um vinho presente e flores.
Porque hoje é o dia da mulher, e mulher para mim, é sempre uma Deusa!

Vânia De Farias Castro.
Em 08 de março de 2020.
Imagens Google.
Meus sacrifícios cruzaram o infinito
Em cada dobra do tempo, descobri esperança
Em cada retorno, encontrava as flores sorrindo
Nas tardes de março senti a carícia da brisa

O laceamento das injustiças antes perpetradas
No oito, a transmutação em guirlandas
de alfazema incensando a psicosfera.

Nas duras penas da existência
Cataloguei plumas para minhas fantasias
Do faisão o sabor da tenra carne
De suas penas, adereços para meus cabelos.

Com outras penas, desenhei sonhos
arquitetei projetos arquitetônicos
para proteger a segurança de muitos
e descrevi minhas dores, alegrias e inseguranças

ainda hoje, alquimizo penas
transubstanciando em outras procuras
outros significados e sentidos
coragem para enfrentar os desafios diários.

Vânia de Farias Castro
Em 08 de março de 2020
Imagens Google.
Dia internacional da mulher

Gostaria de esquecer de Dandara, e de tantas outras que foram vilmente assassinadas por homofóbicos.
Que tentaram viver de acordo com seus psiquismos, entretanto foram impedidas por homens/monstros em conflito com suas próprias identidades de machos fracos, frustrados e pusilânimes.

Gostaria de esquecer do carro de mão em ela foi arrastada com seu sangue maquiando seu corpo de homem lutando para viver sua feminilidade, sem incomodar ninguém, sem humilhar ninguém, sem tirar o direito de ninguém, mas tão somente exercer o seu de viver segundo seus sentimentos, e sensações, sensibilidade, alegrias e dores.

Gostaria de esquecer de Marielle, e de tantas outras cruelmente abatidas pela coragem e ousadia de usarem suas vozes, em defesa de mulheres, outras minorias e até de homens.
Gostaria de esquecer aquele dia, em que mais uma voz de mulher, negra, moradora periférica e lésbica - fora pelo menos temporariamente - silenciada não com um tiro, mas com vários, numa demonstração cabal da passionalidade de seus executores e/ou assassinos intelectuais.

Gostaria de esquecer das mulheres que foram barbaramente assassinadas por lutarem pelo direito de darem à luz, a um filho, resultado de uma relação afetiva e/ou sensual, mas que para seu companheiro a mesma não passava de um objeto para saciar seus espúrios desejos e o filho, apenas um estorvo a ser eliminado antes da nascente.

Gostaria de Esquecer, Elisa Samujo, que não bastasse o bárbaro e covarde homicídio, não lhe fora dado o direito de ser respeitado seus despojos, - costume mantido desde a antiguidade-  o seu corpo pertenceria a seus familiares e amigos, e não ao homicida perverso e narcisista, que ofereceu seus restos mortais, como ração aos cães famintos, numa inútil e burra tentativa de cometer o crime perfeito, contrariando alguns psiquiatras forenses que alegam que todo condutopata é inteligente.

Gostaria de esquecer seu destino, sua humilhação, não apenas por machos psicopatas odientos mas por um judiciário covarde, que subverte e inverte o ordenamento jurídico para justificar seus preconceitos e discriminações apequenadas. E mais alarmante: no presente caso, cometido por uma juíza, que se negara a dar a Elisa, o amparo da Lei Maria da Penha, Dando azo para que aquele e outros machos sem escrúpulos e avarentos continuem dando vazão a seus instintos perversos e requintados de crueldade.

Gostaria de esquecer da pequena Izabela Nardone, mimoso botão que nem chegou a florescer, impedida por um macho e por uma covarde fêmea, descontrolada e ciumenta, justo os dois que tinham o dever de protegê-la, amá-la e educá-la.

Gostaria mesmo de esquecer, de tantos socos, humilhações, desdém, indiferença, abandono a que são relegadas tantas mulheres, nos campos, nas cidades, nas mansardas ou mansões.

Vânia De Farias Castro.
Em 08 de março de 2020.
Imagens Google