segunda-feira, 28 de agosto de 2017

ATÉ TU?

Até tu Brutos?

Eu ainda alimentava esperanças
que serias o sol de minha vida
nossas lutas em terras tão queridas
não forjaram a lealdade necessária


Sinto apenas um vazio em meu peito
e as lágrimas que jorradas em um leito
de um rio,  no mar hoje desagua
tornando-se  agora um todo com outras dores
no sinistro e feio circo de horrores
onde outros, foram judas a apunhalarem!

Quais moedas hoje recebes dos comparsas?
Quanto custa pra tirares tuas máscaras
eis que pago, para te desmascarares.
Não é justo, o que fazes com tua vida
nem com a minha, que um dia, foi guarida
foi teu berço, ao chegares nesses mares!

Qual Caim, que matou o próprio irmão
tua estrada é cimentada de traição
onde fores, deixarás tuas pegadas...
Triste fio, que enrolado nos estertores
amanhã tuas medalhas serão dores
dos culpados, com as mentes em fornalhas.

Hoje lembro de Iago, acometido
pela inveja, vício cruel e pervertido
invertendo toda a ordem de valores
enredando o nobre Othello na tragédia
onde o mundo ver com lupa a mazela
sendo algoz na sinistra traição!

Mas espero, que um dia tu acordes
do torpor em que hoje, frio dormes
escondendo os sinistros e torpes intentos
sinto náusea, mas não escondo o lamento
em que choro neste mísero momento
amargando a triste dor da traição!

E desejo que encontres um dia a paz
que conforta e consola o capataz
de sua culpa por trair a seu irmão
se julgando um senhor, sendo escravo
lhe sobrando, apenas o amargo
numa boca acostumada a traição!


Vânia de Farias Castro
em agosto de 2017.

SOMENTE HOJE

Somente hoje

Somente hoje
não desejo nada
já possuo tudo de que preciso:
vida num corpo físico
que embora já alquebrado
pelas intempéries do tempo
permite-me transitar com certa desenvoltura
pelos espaços, necessários
no aprendizado e auto conhecimento.


Somente hoje
não te peço nada ó Pai de infinita bondade
e criador de tudo e de todas as criaturas.
Quero apenas aproveitar, zelar e cuidar
do que me foi concedido,
por teu excesso de misericórdia:
filhos, netos, amigos, família,
colegas, trabalho, escola...

Uma casa que junto aos meus
tento transformar em um lar, acrescentando
tijolinhos de compreensão
unidos pela argamassa da paciência
e inúmeras renúncias, para que o outro
ocupe seu lugar, e cresça como ser humano.

Somente hoje
Tento ser mais humilde e menos arrogante
no convívio com meu semelhante
procurando ouvi-lo e respeitá-lo
em seus posicionamentos e escolhas
 pois sei que só Tu ó Pai, tem o poder
de perscrutar nosso íntimo e conhecer
nossas verdadeiras intenções e motivações.

Somente hoje
Renovo minha confiança em Ti
e em Teus prepostos,
não obstante a pouca fé, que em mim dorme,
aguardando o despertar da consciência
que aspira por vida, e vida em abundância.

Somente hoje
Quero apenas agradecer-Te!

Vânia de Farias Castro.
Em 28 de agosto de 2017.
TEMPO DO SONHO

Sou do tempo em que
lavada as fraldas de meus filhos
as pendurava nos varais
como bandeiras brancas
a tremularem em direção ao vento


sim, a paz que a maternidade
trouxe ao meu coração
esquecendo as injúrias
ingratidões e perversões
de outros companheiros
nas íngremes caminhadas
em direção ao crescimento.

Sou do tempo em que
enfileirava seus calções
com a emoção de quem
organiza medalhas na alma
compensando as involuntárias
ausências, tão necessárias
e urgentes, na manutenção
de seus pequenos corpos!

Sou do tempo em que juntos
numa pequena sala
assistíamos a vários filmes antigos
mudos, em preto e branco
onde os gestos nos falavam
tão alto que ainda hoje
os escuto nos escaninhos
da memória que já falha
nos registros de fatos recentes...

Sou do tempo em que
escutava numa calçada
com olhos e ouvidos atentos
a Dona Dú, velhinha querida
e amorosa que nos tirava
das paisagens a nossa frente:
muros altos, de fábricas antigas
de beneficiamento de sisal

os contos de fadas,
nos eram apresentados
com suas bruxas malvadas,
madrastas invejosas,
numa eterna e asselvajada luta
para manter a juventude,
que agora se esvaía.

Princesas puras e ingênuas,
a espera de um príncipe
que as tirasse daquele martírio
e as levasse para seus castelos
no dorso de um corcel branco.

E em nossas viagens pueris
esquecíamos do pó em nossos pulmões
das tosses noite adentro e alergias
daquele muro cinzento e tão alto
que nos pareciam fortalezas
dos castelos medievais
das águas ferventes e coloridas
saídas de seus bueiros
apressadas e com ira, destruindo
a vegetação em volta...

Para nós, eram pequenos vulcões
de cujas erupções, saíam paletas
de cores ferventes e multifacetadas
Ah, sou do tempo do sonho...

Da alquimia, em que transformávamos
uma paisagem empoeirada
pelos dejetos industriais
em castelos antigos
onde poderíamos encontrar
flores coloridas, frutos doces
fadas e elfos a nos receberem
com mesuras e presentes...

Não pensávamos nos operários
cobertos de pó, enclausurados
como brinquedos velhos
e cujos sonhos, recebiam a visita
de pesadelos cruéis, quando
o final do mês, se aproximava...

Pois é... sou do tempo do sonho!
Vânia de Farias Castro
em agosto de 2017

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

MANDA TEU NÚMERO

MANDA TEU NÚMERO!

"Manda teu número, linda"
foi a ordem recebida
pelo amigo virtual
em hora imprópria e indevida
onde se viu receber
ordens de homem que eu
sequer, jamais vi na vida!


Quando lhe disse que não,
que costumo me manter
afastada de amizades
preto e branco ou colorida
me privando de dizer
o que corria apressado
na minha mente atrevida.

o "novo" amigo acuado
respondeu sorrindo e bravo
que é dos mais conhecidos
desse recanto quadrado!

Ora que coisa engraçada
sempre tive ojeriza
de galanteio assanhado
mas eis que me aparece
um cabra dos mais gaiatos
ainda mais com gemido
acreditando o coitado
que "linda", "fofa", "gatinha"
engana, velha vivida!

Quando eu era ainda mocinha
não caía em trapalhada
considerava vexame
decadência ou o que o valha
partir pras loucas caçadas
com outras jovens garotas
com sonhos, e despreparadas

amigo a gente encontra
pelas estradas e lidas
quando temos afinidades
sem prévio aviso da vida

não é prudente caçar
em clubes, bares, baladas
pelo príncipe encantado
para não morrer nas calçadas
ou mesmo em helicóptero
como lixo, descartada

ou na lábia de malandro
psicopata assassino
essas histórias ouvi
desde os tempos de menina

já acompanhava as notícias
que chegavam na província
das cidades, grandes, frívolas
com vadiagem encobrindo
as mais aberrantes taras
nas caras de belos meninos...

Ou de "homens de respeito"
com dinheiro e tradição
algumas moedas no bolso
 ostentando um cordão

de palavras repetidas
mas pareciam as rezas
dos padres de minha terra
com batina até o chão.

Mas muito tempo passou
hoje sou velha e avó
casei, descasei, vivi
não fiquei no caritó

tive filhos que espero
não façam papel de trouxa
jogando conversa fora
com as velhas, nem com moças

não usem o tal Facebook
para cantar sem tem voz
pra mastigar sem ter dentes
pra escutar sem as oiças!

Prestem muita atenção
meus filhos e neto queridos
no exemplo das mulheres
que com vocês tem vivido

não alimentem machismo
dando uma de sabidos
tentando tripudiar
com amigos ou inimigos
 ou mulheres que encontrem
por esse mundo comprido...

Pensem logo se queriam
que sua mãe ou irmã
amiga, tia ou avó
fosse tratada por machos
como coisa sem valor
ou objeto pra uso
por baixo do cobertor.

Se encontrarem por aí
com uma mulher de fibra
condecorada na vida
com sofrimento e suor
trabalho e rugas no rosto
ou mesmo uma pele lisa
sem a visita da dor

respeitem, eis que a vida
descarta sem preconceito
os que se julgam espertos
e pulam como macacos
loucos, mostrando sem escrúpulos
a genitália encardida
por traz da fala machista
sem escrúpulo ou pudor!

Vânia de Farias Castro.
Em 07 de julho de 2014
imagens Google.

USO DOS RECURSOS VIRTUAIS

Em verdade amiga, não uso esta plataforma virtual, com o fito de conhecer homens para futuro relacionamento sensual. Não censuro nem condeno quem assim o faz, uma vez que o universo afetivo das pessoas, é sempre muito complexo e insondável.
Muita vez a carência afetiva, cria a ilusão de que se conseguirá compensar essa carência, na busca desenfreada por companhia ou sexo de variação. Entretanto, nunca acreditei que a vida funcionasse assim. Como afirmou Paulo de Tarso: "Há tempo para tudo, para plantar e para colher, para falar e para calar..." E meu tempo sempre foi dedicado ao trabalho, estudo, e a companhia dos amigos e familiares. Além, é claro de conviver com jovens de minha idade ou até mais velhos, brincando, cantando, me reunindo e mesmo que inconsciente, já me preocupava com o sofrimento do próximo e tentava dentro de meus limites, atenuar suas dores.
Se na minha juventude já me afastava de, ou sequer se aproximava esse tipo de homem, hoje, com esta plataforma virtual, fica complexo. Eis que aceito solicitação de amizades, por escolhas muitas vezes subjetivas, mas acreditando que se vá estabelecer algum tipo de afinidade, quer seja: política, filosófica, artística, religiosa, afetiva não sensual ou mesmo para divulgar meus trabalhos.
Entretanto, constato com certa aversão que muitos homens ainda não perceberam que nem todas as mulheres estão interessadas em dotes de galanteadores de plantão, conquistadores profissionais, que usam os mesmos métodos medievais, acreditando que porque aceitamos seus pedidos de adicionamentos, estamos tão carentes ao ponto de ouvirmos uma ladainha, que te confesso, chega a me causar náusea.
Tento ser elegante e cortes, entretanto firme: já interrompendo o assunto quando perguntam meu estado civil, e confesso: já considero perda de tempo, uma vez que esse dado consta de meu perfil não entendo porque a pergunta impertinente e desnecessária. E me dão as respostas mais absurdas possíveis: "é que muitas são casadas e colocam no perfil que são solteiras, e o rosário de respostas, vai do vexatório ao esdrúxulo, como: "seu marido permite que você converse?" Porque na cabecinha deles, que geralmente usam o cérebro para decorar o pescoço, quem aceita sua solicitação de amizade, necessariamente está em busca de aventuras sexuais.
Meu saudoso e querido pai Antônio Fernandes de Farias. (Padre), quando eu ainda nem havia nascido, defendia o direito das prostitutas em escolher seus clientes, e quando ouvia de outros homens que as mesmas deviam aceitar seus convites e galanteios sujos, apenas porque eram prostitutas, o mesmo as defendia arrimado e usando de analogia com os comerciantes e autônomos: que um comerciante escolhe seus clientes, assim como o trabalhador liberal, e se as mesmas vendiam "seu corpo", ou o mais apropriado: seus serviços sexuais, também tinham o direito a escolher os clientes que lhe fossem mais adequados.
O mesmo ocorre hoje: Não compramos se estivermos com nossos nomes cadastrados nos bancos de proteção ao crédito, e mesmo quando não estamos com o nome negativado, algumas empresas ou bancos,ao serem questionados, respondem que não apresentamos o perfil adequado para sermos seus clientes.
Isto significa que se a prostitua presta um serviço ela também pode escolher o perfil de sua clientela. Isso meu pai já entendia há mais de sessenta anos atrás, cresci ouvindo esses e outros questionamentos que forjaram minha edificação profissional e humana.
Vânia de Farias Castro.
Em 08 de julho de 2017.

GRATIDÃO

GRATIDÃO
Minha gratidão Senhor!
Por ter recebido em meu colo
há 28 anos atrás
meu filho do coração e do corpo.

Minha gratidão Senhor!
Por ter sido abençoada
com a oportunidade da maternidade biológica
onde muitas lutam por longos anos
sem almejarem seus fitos.
Minha gratidão Senhor!
Por permitires o retorno
de alma querida, de longevas eras
e que hoje, partilha comigo dessa jornada
com todas as dificuldades,
inerentes a vida de relação
mas que demonstra esforço e interesse
na elucidação dos necessários conflitos.
Minha gratidão Senhor!
Por saber não ser merecedora
de receber raro e caro presente
mas que, por excesso de Tua misericórdia
foi me dado, para refrigerar
e balsamizar meu coração
nas duras refregas da vida.
Minha gratidão Senhor!
Por depositares em mim
essa grande responsabilidade
que espero me fazer merecedora
e honrar o compromisso assumido.
Minha gratidão Senhor!
Pela vida e pela oportunidade
da reencarnação em um corpo que embora,
já desgastado e combalido
ainda recebe de ti, a força necessária
para continuar a jornada
em direção à felicidade.
Nossa única fatalidade.
Minha gratidão Senhor!
Pela vida!
Vânia de Farias Castro.
Em 11 de julho de 2017.

O TEMPO II

O TEMPO II
Nosso doutor e remédio
que traz conforto e calma
para sede, a água pura
apascentando à alma

Um bom mestre, bom amigo
conselheiro e confidente
aguarda o surgimento
do broto de sua semente...
É preciso suportar
o enterro em cova árida
alcançar a terra adentro
procurar a seiva cara
e então surgir sorrindo
como uma erva rara
ou mesmo simples capim
flexível a ação do vento
resistindo as tempestades
e as intempéries e o tempo
esse irmão, leal e probo
que só cobra o que é devido
só nos pede o possível
que esteja ao nosso alcance
não adianta correr
eis que o tempo nos encontra...
É eficaz contra a dor
de cotovelo, ou do dente
é só procurar ajuda
de alguém com competência
Odontólogo ou reumatólogo
ou outra costela quente...
É também santo remédio
para os inúmeros complexos
que surgem aos borbotões
nos deixando aturdidos
alucinados e perplexos
Com o tempo aceitamos
nosso corpo, e nosso jeito
o que antes era estranho
agora é quase perfeito
alguns medos evaporam
exigimos mais respeito!
O tempo ainda é amigo
de quem o espera com calma
para o esclarecimento
de muitas dúvidas da alma
ele explica, nos ensina
que o bem sempre aconselha
que vivamos com alegria
trazendo o céu para a terra
sendo gente de mancheia
Que o céu ou o inferno
não está em um lugar
geográfico ou circunscrito
mas na ausência do amar
nos diablos transformados
quando estamos a separar
nossos irmãos, cultivando
a cizânia, o apartar...
Que sejamos novas pontes
novos hinos a acalentar
corações com dor e medo
sem um fito a almejar
que sejamos o alimento
onde a fome aportar
e a água cristalina
se a sede amedrontar
que sejamos a verdade
se a mentira se mostrar
e levemos a bondade
se a maldade se assentar
que possamos ser a luz
no escuro do lugar
porta-vozes da justiça
se a mudez se instalar!
Vânia de Farias Castro
em agosto de 2017
imagens Google.
PEDESTAL
Procuravas me colocar num pedestal
qual estátua de carrara esculpida
meu lugar era adrede escolhido
como bela tela feita por Magistro
nas escadas escolhias os degraus
do seu cume, em direção ao céu soberbo
hoje vejo, quantos juntos no desejo
de seus corpos, para baixo inclinados
esquecendo o olhar do apaixonado
vendo o outro, como o rei de seu reinado!

Engraçado, como o mundo ainda te ver
como louco, dementado em agonia
mas eu lembro do encontro de alegrias
esperanças e venturas acenando
e o desejo de cuidarmos um do outro
como órfãos, nesse mundo de enganos.
Tu me vias, como a agua de um poço
saciando a sede num grande deserto
eu sentia, quando estavas por perto
que teria um diamante em meu pescoço
enfeitando de beleza o colo ereto
me mostrando o céu azul lá do meu fosso
Hoje lembro com ternura do passado
das viagens pelos sítios e cidades
do encanto das manhãs e belas tardes
em que juntos, dividíamos a bondade
como o pão que partilhamos com o irmão
nos enchendo de esperança a mocidade...
És o louco, mas já foste o cavalheiro
Dom Quixote, desse tempo de maldade
o palhaço de meu circo assombrado
retirando os destroços do passado
foste a fonte de agua pura prum sedento
foste o sol, a iluminar a manhã quente
foste a barca para os bichos abandonados!
Hoje o mundo rir de ti, e de teus atos
da doença que te atinge sem escrúpulos
mas eu lembro quando estava de luto
com o peso da saudade agrisolando
dos momentos de agonia e desengano
quando enfim nos encontramos no teatro.
Foste a festa da criança sem afeto
compromisso com o anjo em abandono
restaurando suas asas com os sonhos
que trazias há muito tempo acalentados
nos teus sonhos, de brincante encantado
Foste alívio, nas feridas ainda abertas
a clareira, para a mata densa e escura
foste a música que encheu a minha alma
de ternura de esperança e ventura
hoje vejo-te perdido e solapado
aos tropeços como o bêbado sonâmbulo
mas já foste a nobre bússola que um dia
me tirou das tempestades do oceano
das inúmeras promessas não cumpridas
dos comparsas nos festins em que eu reinava
comensais de minha mesa abastada
onde a fome espreitava sem alarde...
Quando a mesma se fez vista já era tarde
encontrou-me entre triste e aturdida
os convivas dos banquetes, sem aviso
num bailado deram os passos da partida.
Vânia de Farias Castro
para um poeta embriagado
Em 30 de julho de 2017
Imagens: Google.

QUESTÃO DE ESTILO

QUESTÃO DE ESTILO.
Mesmo assim... ando meio atrapalhada
mas continuo caminhando
me ditaram alguns padrões
para encaixar os meus sonhos
eles fugiram assustados
não gostaram desses planos

Falaram pra eu não usar
roupa curta no inverno
outra com nome de artista
disse pra eu não usar terno
assim eu fico confusa
o que usar nesse inferno?
Quando usei um chapéu
abas largas, flores grandes
um jovem me perguntou
se o sol estava queimando
olha que coisa mais louca
não sabia que chapéu
é guarda-sol ou ou de chuva
para proteger o crânio
se for, acredito eu
sua mãe usou por anos
é a única explicação
para trazer para o mundo,
um tonto ao invés do Zorro
ou então, foi por engano.
Outros vivem implicando
com os os botões de minha blusa
com meu estilo boho
mesmo em dias com chuva
mas se uso sobretudo
se espantam e se emburram...
Não importa o tecido
se de lã, ou poliéster
malha fria, cotelê
ou a pele que me veste
olham sempre censurando
parece que estou com peste
Esperam que eu me vista
como todas que conheço
se é moça, usa shortinho
calça justa e adereço
mas se velha, é preciso
usar xale com vestido
saia ou calça comprida
com etiqueta da moda
mostrando sempre o preço
mas parece um pelotão
empunhado seus fuzis
dos olhos, saem faíscas
e gosma de seu nariz
eu até me arrependo
do dia em que nasci
em lugar tão atrasado
onde o outro é quem diz
o que eu devo usar,
calçar e até pensar...
Imagine se souberem
as coisas que aprontei
e as tantas fantasias
que sonhei e que vesti.
Uso alfaiataria
calça esporte ou mesmo clássica
risca de giz, ou de chita
se ficar feio ou sem graça
quem carrega a fantasia
é sempre minha carcaça
Não adianta chegar
com sugestões de estilo
paetês, grega ou galão
sianinha ou soutache
cores foscas ou com brilho
faça uso, do meu gosto
não espero aprovação
quando compro minhas roupas
acessórios ou outros itens
não me doam um tostão!
Gosto de lenço, echarpe
pashimine, golas altas
bota de cano longo
calça jeans, listras largas
chemisié, ou taiê
chapéu coco, ou gravata
vai depender do momento
ou o que me der na lata.
Já usei saia godê,
saia longa e mini saia,
sai midi, ou mesmo lápis
com pregas machos ou fêmeas
fendas, plissados ou franzidos
dependendo do recado
do momento, ou da calçada...
Usei também macacão
de todo tipo de sarja
linho, malha ou cetim
algodão, seda cortada
à lazer ou até queimada
nas pontas com vela, em casa.
Gosto ainda de vestidos
esvoaçantes ou tubinho
preto básico, ou curtinho
longo e todo drapeado
de linha, renda ou brocado
de gurgurão, ou bordado.
Olha lá se eu estou
te pedindo opinião
não uso farda, ou tendência
visto o que tiver na mão
saia longa bem rodada
danço coco de umbigada
com calça índigo enfrento
o trabalho ou a balada
ou qualquer reunião.
Vânia de Farias Castro.
Em agosto de 2017
Imagens: Google.

DIA DE AGRADECER

DIA DE AGRADECER
ao meu pai:
Antônio Fernandes de Farias.
(Padre)
Hoje quero agradecer
pelo pai que és pra mim
quando ainda pequenina
enchia-te de orgulho vivo
como viva é a memória
gravada em minha retina.
Lembro das tardes serenas
em que juntos passeávamos
pelas ruas da cidade
pequena, onde morávamos
de mãos dadas, num desfile
dois corações se amando
mostrando pro mundo inteiro
uma espécime de humano:
tão raro, nos nossos dias
de valor imensurável
meu pai foste o miserável
que sofria os desenganos
de teus irmãos sofredores
nas dores, de um mundo insano.
Também foste a fonte límpida
sem preconceitos malsãos
orgulha-me a retidão
de tua conduta ímpar
meu pai, eu lembro ainda
de teu humor aguçado
quando chamado por outros
a julgar e condenar
saías logo apressado
sem raiva ou ira a mostrar
que aos outros, é que cabe
como viver ou morrer
e suas escolhas são
resultado do querer
do livre arbítrio, que Deus
lhes deu para os ver crescer
Também da generosidade
que mostravas ao caminhar
nas estradas escolhidas
para teus pés palmilhar
quando davas a um pedinte
uma camisa tirada
dor armário em bom estado
em linho puro e passada
pelas mãos de teu amor
minha mãe, nobre guerreira
que também está com o Senhor
Quando eras indagado
de tuas motivações
por que dar a um pedinte
destituído de pão
roupas novas e decentes
respondias então sorrindo:
- porque ele é um irmão!
Meu pai, agora embargo
a voz de meu coração
foram tantos os exemplos
que deixaste para nós
de homem sem atavios
sem melindres, cuja voz
levantava-se no momento
em que fosse defender
os mais débeis vulneráveis
homens sem alvorecer
prostitutas e dementes
vítimas da drogadição
crianças ao abandono
sem um lar, ou mesmo pão
Meu pai, ainda és modelo
que quero sempre seguir
por essas estradas íngremes
com meus débitos a carpir
espero, quieta e serena
o dia do reencontro
contigo, noutras paragens
para de novo seguir
em busca de evolução!
Vânia de Farias Castro.
em 12 de agosto de 2017.
PARABÉNS AS "PÃES".
Hora de parabenizar as pães: mulheres determinadas que exercem os dois papeis... Conheço várias e me identifico com as mesmas, eis que também o sou. Quando há alguns anos, recebi uma homenagem num dia como esse, pelo jornal O Norte, numa matéria intitulada PAIS QUE VALEM OURO, fui fotografada pela querida amiga Mônica Câmara, e na foto escolhida eu usava uma gravata do Sr. Iti, pai da mesma, -e por quem eu nutro grande carinho e admiração- na minha mesa de trabalho, junto ao meu filho mais novo.
Lembro ainda que ao ser entrevistada, encontrava-me no carro do irmão de meu ex esposo, e quando indagada se teria sido muito difícil, criar e educar meus filhos, sem a figura/presença do pai, respondi de inopino e sem qualquer reserva que foi mais fácil, do que tê-lo como mau exemplo para os mesmos.
É lamentável que existam tantos pais, que desertam de forma desastrada ou covarde, de seu compromisso, entretanto, não me lamento, eis que sou convicta das leis de causa e efeito e de que nada ocorre por acaso.
Sou grata a Deus, pai de todos nós, e aos meus dois pais: meu pai biológico: Antônio Fernandes de Farias e meu padrasto: João José da Silva, por muito me amarem, e quiçá tenham sido o exemplo de pai, que meus filhos precisassem, através de mim...
Fui muito amada e cuidada, e meu amor e gratidão por eles, é demasiado grande, para caber em palavras... Homens simples e generosos, não alimentavam o vício da vaidade e estavam sempre dispostos a perdoar o ofensor, a desculpar, a relevar determinados abusos e ou desconsideração, comportamento que me deixava intrigada e por que não dizer confusa, entretanto hoje, compreendo a dimensão de tal conduta.
Talvez essas referências marcantes e positivas, hajam influenciado no exercício de meu papel de pai, mesmo sendo mãe e invertendo esses papéis quando se fazia e/ou se faz necessário.
E acredito que outras mulheres, que por excesso de misericórdia de Deus - Pai justo e amoroso- tenham recebido a tarefa de criar seus filhos sozinhas, ou com seus companheiros apenas como simples figurantes, também tenham tido modelos fortes e dignos, como eu tive e que acreditem: não há nada a lamentar, apenas a agradecer pela dupla oportunidade, de sermos PAIS E MÃES, de nossos rebentos... Cuidando, velando, lutando, brigando, para que os mesmos não se arrebentem nos cipoais das paixões e desequilíbrios e que sejam felizes, simplesmente FELIZES!
Parabéns a todas nós!
Vânia de Farias Castro.
em 13 de agosto de 2017.

REPASTO

REPASTO
Vânia de Farias.
Perguntas, meus motivos obscuros
quando me nego, a partilhar de teu convívio
não me perguntes mais, posto que eu digo:
tua companhia, não me apraz

Não entendo tua arrogância, meu rapaz
na tentativa de humilhar quem te sucede
tua função, seria bem mais digna
caso não fosses, néscio quanto cego.
Aos tropeços, cambaleias ao exibir
conhecimentos parcos sem o brilho
da humildade que adorna o saber
e para pareceres superior
atiras os teus pares, ao ridículo.
Só consegues, demonstrar incompetência
inexatidão, em teus conceitos equivocados...
Como sofista, teu papel é secundário.
Não compreendo essa tua petulância,
na tentativa de exibires segurança,
conhecimento em vários campos do saber
demonstrando apenas estroinice,
denotando triste incompetência
empáfia em tuas teses e sentenças...
És bajulador, dos mais servis
ao mendigar aplausos, e confetes
não sentes por ti, qualquer afeto
embora exijas dos demais, que se apressem
em se curvarem em mesuras desmedidas.
Mais pareces um velho capataz
pusilânime frio e cruel
mais perdido que um carrossel
a girar em círculos viciosos.
Partilhar contigo de repasto
é matar em mim, o que mais amo:
desprezo por títeres e tiranos
simpatia por gente honesta e humilde
verdadeira, sem pretensão que as obrigue
a viveram na aparência que empobrece.
Vivem como se estivessem em uma festa
brindando e partilhando com os irmãos
mas tu, só demonstras escuridão
preconceito, insegurança e loucura
teus complexos são raízes tão escuras
grossas quanto feias e rugosas
a serpentearem tua vida, em arremedo
exalando puro ódio
covardia e muito, muito medo
de perderes o que achas que é teu.
Hoje descarregas teus miasmas
em todo ambiente em que entrares
convidando os outros a uma viagem
louca, como fruto alucinógeno
mas cuidado rapaz, eis que o relógio
não perdoa os loucos mais ferozes
se continuares com a dança tão macabra,
quanto teu passado que enfada
o futuro que por ti fora sonhado
será em pouco tempo transformado
em pesadelo cruel, quando medonho
teu penoso fim, é o abandono
numa ala de um escuro sanatório
ou nas frias ruas da cidade
a vagar, feito sombra sem seu dono.
Vânia de Farias
Lei nº 9.610, de 19.2.1998 (Lei de Direitos Autorais)
Súmula nº 386 do STF
Janeiro de 2016.
Imagem: Google

MEU PAI

MEU PAI
Vânia de Farias
Quando a emoção me corta a fala
estrangulando a garganta agora muda
dos olhos, vertem lágrimas desnudas
de todo o equilíbrio bem forjado.

Agora não é hora, sei que falo
mas minha pele já eriça os pelos rijos
tento agora, esboçar pálido sorriso
mas meu semblante em agonia, agora chora.
Musica, em ramalhetes recebi
e na memória lindos sonhos renasceram
de uma infância, bela e rósea qual jambeiro
derramando seu tapete na calçada
lembro agora dos meus dias, na cidade
na Coremas rua em que te vi partir
e deixando no meu peito só saudades
dos momentos de alegria que vivi
junto a ti, ó querido pai amado
socorrendo pequena ave ainda implume,
folheando as histórias infantis
ensinando-me a viver feliz no mundo.
Carpinteiro, tu fizeste um banquinho
como tantos, outros brinquedos para mim
sinto agora a presença do perfume
do amor, que num grito se evadiu
quanta dor, ainda mora em meu peito
a saudade, ainda vive por aqui
lembro ainda de Augusto, aquele Anjo
companheiro de teu último suspiro
e se EU, te cobrisse com meus beijos?
Ficarias, por minutos junto a mim?
Mas deixaste apenas um vazio
só um livro refletindo teu estado:
triste homem, carregando o seu fardo:
Depressão, companheira infeliz!
Vânia de Farias
Janeiro de 2016.