sábado, 29 de fevereiro de 2020

Alguns silêncios atestam que não damos mais tanta importância a certos posicionamentos ou atitudes. Talvez esta sensação nos mostre que, enquanto estamos discutindo, ainda queremos manter o diálogo ou a relação, mesmo tóxica. Entretanto quando não temos mais vontade de explicar, revidar, retrucar, foi criado um abismo intransponível, mas benéfico. Até porque tudo um dia fenece.
Faz parte da vida, olharmos em outras direções, encontrar beleza em outras situações, outros sentimentos, outros afetos. Entender que na verdade estávamos presos a uma ilusão, uma ideia criada por nossas carências, nossas necessidades de mimo, de cuidado, de ninho, mas que geralmente não encontramos noutras pessoas, mas em nós mesmos!
Que possamos nos olhar mais, nos conhecer mais, nos encontrar mais, e não perdemos tempo e energia em busca de fantasias, que cedo ou tarde se transformam em pesadelos cruéis.
Vânia De Farias Castro.
Em 04 de dezembro de 2019
Imagens Google.
Que ódio é esse de nossas crianças?
Que euforia macabra te inebria
já não sei se é noite ou mesmo dia
só o breu em meus olhos, hoje aflitos
Não consigo entender qual o teu fito
ao matar com prazer os nossos sonhos
nossos filhos são negros como a noite
que acalma e conforta nosso sono
Entretanto fizeste pesadelo
nossos dias em nuvens negras ou pardas
nossos jovens morrendo a cada instante
por malditos usando torpe farda!
Vânia de Farias Castro.
Em 06 de dezembro de 2019
Confesso que acho engraçado
cada um em seu quadrado:
uns artistas, ativistas, outros grevistas
escritores, professores, outros atores
amadores, cheios de dores
cada qual segue por um lado...

Fico sonhando com o dia
em que juntos eles lutarem
quais direitos conquistarem
não pra si, mas pra seus pares
Por enquanto, fica o pranto
de seguirmos separados
cada qual chora um bocado
continuando o riscado
indiferentes, ao indigente
mesmo que esteja do lado
mil projetos, amanhã féretros
pros planos já abortados
quando se deixa de lado
companheiros, faxineiros
merendeiros, ambulantes
as gestantes, jovens negros
ao relento, dos regalos
damos logo o atestado
da moléstia nos ceifando
indiferença reinando
guerra santa ou profana
menos a paz almejada!
Vânia De Farias Castro
Em 07 de dezembro de 2019
Imagens: Google
Minha querida Maria
quando chegaste ao nosso orbe
ainda eras Sofia
se fazia necessário, afastar os truculentos
homens ainda imersos na loucura e hediondez
limpar a psicosfera dos miasmas de suas mentes ignóbeis

Chegaste acompanhada de tua equipe
fora feito o magnânimo trabalho
e mil demônios repatriados
Hoje, querida Mãe
sinto-me aflita e as vezes perdida
tenho ciência que velas por todos nós: teus filhos
Sei que a tarefa iniciada por teu Filho, continuará
que muitos avatares vieram antes dEle para preparar o solo
entretanto estamos atordoados e aparvalhados
é muita loucura e estupidez
desconhecemos nossa origem e destino
e nossa missão em nosso já tão sofrido planeta...
Por isso, Mãe Amantíssima
socorre-nos neste momento de transição
ajuda-nos para não cairmos
nos precipícios da precipitação
na loucura e no autocídio
Dê-nos a tua paz
conforta-nos com teu exemplo
quando um dia, viste teu filho
O Governador do orbe
crucificado entre dois ladrões e sicários
lembra-nos que Ele o Justo por excelência
venceu a morte, venceu o mundo
este mesmo mundo que ainda hoje
estertoramos de dor e agonia.
Socorre-nos Mãe!
Vânia De Farias Castro
Em 08 de dezembro de 2019
Imagens: Google.
Com os olhos esticados da janela
passei dias e noites a esperar
teu sorriso com matizes sem sentido
tua chegada, teu melindre, teu olhar
passei longas tardes de espera
segurando angustiada a solidão
hoje livre, abri portas e cortinas
e consigo olhar em outra direção
como dói ser escravo dos sentidos
aguardar o que jamais nos chegará
os grilhões com tirania nos tirando
nossos passos sedentos do caminhar
hoje olho o horizonte que se abre
abraçando o filho pródigo retornando
amo a luz, o morno vento acarinhando
minha pele acostumada ao abandono
e recebo o que jamais ousei sonhar.
Vânia de Farias Castro.
15 de dezembro de 2019
Imagens Google.
Ando cansada
palavras esvaziadas
de sentido e vigor
de frases prontas
de pontas soltas
de gente torta
querendo me desentortar...

Ando cansada
de tapinha nas costas
tanta falácia
piada sem graça
sorrirem da desgraça
de uma grande nação
Estou cansada
de gente sem noção
de qualquer cidadão
que se diga de bem
olho com desdém
os que ainda se mantém
em cima do muro
Estou cansada
de amores vazios
de atrações fatais
arrastando nós outros
como loucos animais
aos modernos porões!
Vânia de Farias Castro.
Em 21 de dezembro de 2019
Imagens: Google
Coisa linda é o amor
piegas, para uns
cafona para outros,
demodê para os demais
não importa
o que importa é sua força
que transforma areia fofa
em asfalto firme e quente

o que importa é nossa gente
lutando por um país
soberano sem enganos
resgatando a raiz
de árvore frondosa e mãe!
Que maravilha é o amor
de homens e bravas mulheres
oferecendo colheres
com cicuta e arsênio
os mais letais dos venenos
para o atraso malsão
para a degenerescência
de homens podres sementes
das drogas que alucinam
o poder, e as rapinas
roubando tudo que brilha
em nossa rica nação!
Vânia De Farias Castro.
Em 22 de dezembro de 2019
Imagens Google.
Queria brincar nas pratas de teu cabelo...
Quem sabe modelar estrelas
e soltar em nossos céus.
Iluminar as noites de solidão
os corações endurecidos
apascentar as almas agitadas
pelas intempéries das paixões

Com os fios prateados
bordar tapetes voadores
viajar pelas núvens
visitar os países da memória
e reinventar nossas histórias
Ah como eu queria
oscular teus olhos
fechar tuas pálpebras
com meus lábios febris
e quando reabrisses
encontrarias outras paisagens
outros sons, outros silêncios
outros significados para as palavras
esvaziadas pelo desuso
outros motivos para voltar a amar
a acreditar na magia da noite de natal!
Vânia de Farias Castro.
Em 24 de dezembro de 2019
Imagens Google.
Então é Natal...
Mais uma oportunidade de repensar nossas prioridades e reais necessidades. De pensar a razão de tanta truculência e violência, de tanta indiferença e falta de empatia, do complexo de inferioridade travestido da pseudo superioridade.
Segundo Miramez, em Maria de Nazaré, e em Francisco de Assis pela psicografia de João Nunes Maia, Maria (cujo nome naquela encarnação era Sofia), chegou ao orbe liderando uma equipe para extraditar alguns homens cuja crueldade e hediondez, poderia atrapalhar o nascimento do Messias, já tanto anunciado.
Fazia-se necessário ainda, limpar toda atmosfera espiritual dos miasmas pestilentos que aquelas mentes ignóbeis e guiadas pelos mais depravados sentimentos e sensações expeliam e jogavam na psicosfera daquela época.
Tempos depois, desce ao orbe em sua missão de receber em seu ventre O Governador do orbe, conseguiu com sua elevada equipe que fossem expatriados mais de mil " demônios", conforme algumas narrativas bíblicas, não importando se o sentido literal, corresponda a homens ou espíritos, mas tão somente a seres cuja maldade e atraso, não correspondia as expectativas para que se recebesse na terra uma estrela de primeira grandeza, cuja missão seria a de revolucionar os costumes e apresentar um novo reino: o reino de amor, confiança e esperança. E aquela missão poderia ser destruída já no nascedouro, caso aqueles odientos homens, permanecem na terra.
Nasce Jesus! Pedra preciosa que até hoje não consegue ser aquilatada por homens, cujo atraso os impedem de ver grandeza na simplicidade, na humildade e na colaboração. Homens, que à semelhança de alguns répteis, se mimetizam para adentrar em lugares ou posição de destaque, onde possam reinar, não importando que seus reinos sejam solapados por outros mais violentos, ou mesmo com as mudanças do tempo, que a tudo e a todos coloca em seus devidos lugares.
E hoje, mais do que nunca necessitamos que Jesus nasça em nossos corações calejados de tanta dor e frustração, cansados de tanto sofrimento, senão nossos mas de tantos irmãos que estorcegam na loucura e alucinação, destituídos da vontade de continuar vivendo, uma vez que aparentemente voltaram à terra homens com sede de sangue, e vontade irrefreável de destruir, eliminar, torturar e massacrar outros homens, numa tentativa inútil se se sentirem poderosos, mas que a cada matança, a cada direito negado, a cada dignidade tirada, o vazio existencial aumenta, e esses homens viciados na atrocidade, precisam de mais loucura e destruição para se sentirem vivos, não percebendo que já estão mortos para a vida!
Muitos se comprazem em odiar, separar, discriminar e destruir tudo ou todos que estiverem distantes do alcance de seus mesquinhos entendimentos e condicionamentos. Não toleram o malfeitor, desde que este seja pobre ou negro, mas aplaudem o criminoso que conseguiu enganar a si e a muitos usando palavras de ordem já usadas em outras épocas de genocídio e separatividade.
Não entendem a linguagem do afeto, nem a complexidade da sexualidade humana, eis que sequer compreendem a sua própria sexualidade e necessidade de acolhimento e amor fraternal.
Confundem carência afetiva com carência sexual, a tudo agregando símbolos e apelos eróticos, desconhecendo que sensualidade e erotismo vão muito além da área genésica, e que todo sentimento ou sensação tem seu fulcro gerador no pensamento.
Que possamos repensar o nascimento do Amor em nossos corações, o nascimento da compreensão de que todos devem ter direito a uma vida digna, que todos merecem ver suas escolhas respeitadas, desde que essas escolhas não prejudiquem a outrem.
Vânia de Farias Castro.
Em 25 de dezembro de 2019
Mais um novo ano
as mudanças são poucas
mulheres continuam loucas
e os machões no comando
são assassinadas a cada canto
seu canto cala na garganta...

Em qualquer classe social
econômica e/ou cultural
da China, Europa à Índia
as superstições sobrevivem
mulher precisa do marido
para lhe humilhar, trucidar
serem usadas e descartadas
nos bacanais dionísicos
A antropofagia prospera
jovens colocam em sua lista de intenções:
comer mulheres!
E a família aplaude
afinal ele é o garanhão
nem precisa de permissão
afinal as mulheres, não sabem
mas querem...
E mais um ano se aproxima
cada um com sua sina:
crianças violentadas
jovens e negros assassinados
família inteiras sem trabalho
e a podre elite entediada
Afinal, comer, beber, viajar
compras em Miami já não lhes agrada
nem as iguarias em finos restaurantes
agora tentam outra entrada:
assassinar mendigos, queimar índios
espancar domésticas e homossexuais.
Afinal, os machões continuarão os tais!
Vânia de Farias Castro.
Em 28 de dezembro de 2019
Imagens Google.
Quem vem lá?
- O novo ano
que trazes para nós, humanos?
De dores estamos fartos
de ódio, já esgotados
de miséria, só enfado

- Trago também esperança
para o cansaço, descansa
revigora as energias
mantém tua alegria
contagia outros seres
muitos precisam de ti
velhos moços e bebês
há magia, mas não vês
tuas lentes estão sujas
acostumaram-se às furnas
aos covis de tantas feras
mas se deixares que eu limpe
verás paisagens salubres
deixa aos homens mortos
que vivam em seus ataúdes
vai em busca da beleza
da ventura e da saúde
preserva a natureza
fazei o bem a quem for
não procures elencar
os vícios do impostor
Sê tu quem exemplifique
que ajas segundo a ética
aproveita a bela chance
de viveres entre feras
ensinando o que é amor!
Vânia De Farias Castro.
Em 28 de dezembro de 2019
Imagens: Google
Tanta gente inteligente
cá de bairro e lá de riba
essa gente, é minha gente
da querida Paraíba!
Tem repentista, contista
poeta e de rua artista
tem artesão e fotógrafo
musicista e cronista
tem tanta gente decente
que usa como escudo
para os ventos malsãos
a poesia condão
a palavra e a escrita
tem arquiteto ativista
escultor de maravilhas
o que não falta é talento
na pequena Paraíba!
Artista plástico, artesão
dançarino gravurista
desenhista cordelista
cantor e compositor
tem ator e diretor
do teatro e da revista
do cinema quanto o circo
das ruas e entrevistas
na palavra e na escrita
nessa terra tem artista
de mancheia talentosa
generosa e atrevida
não escreve na areia
pra água não carregar
essa gente é de arengar
quando a coisa fica feia
gente de barriga cheia
e de mãos escancaradas
para o que passa nas estradas
da bendita Paraíba!
Vânia De Farias Castro
29 de dezembro de 2019
Imagens Google
E hoje é dia de se despedir?
De retornar para a casa do Pai?
Deixando a alegria a nos sorrir
sem ti e sem teu canto de paz?
E hoje é dia de ir com o Ano Velho?
estavas preparado para nos abandonar?
Nós não. Cantamos e chorados com a mesma dor
com a mesma alegria que nos ensinaste
Hoje até os rivais se irmanaram
não há competição na hora da partida
somos todos irmãos e sentimos tua ida
antes, bem antes de nós!
Vânia De Farias Castro
Elegia à Arlindo Jr.
Em 31 de dezembro de 2019
Imagens Google
Apesar das frutrações,
que não nos falte alegria
apesar das dores,
que não nos falte a fé
apesar das separações,
que não nos falte serenidade
apesar das distâncias,
que não nos falte afeto
... das antipatias,
que não nos falte simpatia
das discórdias,
que não nos falte a compreensão
das truculências,
que não nos falte a pacificação
das injustiças,
que não nos falte a coragem
da insensatez,
que não nos falte o bom senso.
...da covardia, a coragem
da indiferença, a empatia
da violência, a brandura
da intolerância, harmonia
do rigor a indulgência!
Que sejamos homens novos
no ano que se inicia
que sejamos novos
nos velhos tempos de guerra.
que sejamos anjos da paz
da renúncia de nós mesmos
para garantir a dignidade de outros!
Vânia de Farias Castro.
Em 30 de dezembro de 2019
Imagens: Google
Meu cupido desastrado
chega sempre atrasado
ou se adianta animado
fazendo muita bagunça
alterando meu estado...
Este cupido é uma graça
só flecha atravessado
jamais acerta o alvo
deixa-me sempre assustado
meu coração em estrago
tenso, doido amargurado
A última que ele aprontou
mas parecia drogado
ou quiçá embriagado
inventou de acertar
um coração protegido
por capas e escafandro
grande ego e um umbigo
limpou bem a sua flecha
se preparou pro disparo
mais eis que a ataxia
mudou todo o percurso
jogou meu doido cupido
ao encontro de um muro
do castelo onde o amor
descansava moribundo
lá estava meu cupido
estabanado quebrado
não disparou sua flecha
ele quem foi disparado!
Vânia De Farias Castro.
Em 04 de janeiro de 2020
Imagens Google.
Onde está minha pele mamãe?
Sinto saudades de minha pele
será que ela volta, mamãe?
Será que levou seu cobertor?
se está com frio...
Sentes saudades de minha pele?
de nossos abraços,
de meu hálito de bezerro?
Será que ela se arrepia mamãe?
Com tanta solidão e desespero?
Vânia De Farias Castro.
17 de janeiro de 2020
Imagens: Google
Hoje, a impotência é senhora e dona
é guerreira, fuzileira, bandoleira
é madrasta e me arrasta,
mas não me abandona
Hoje, a impotência assumiu as rédeas
minhas estribeiras fugiram depressa
fiquei assustada apática sem vontade alguma
só de me entregar ao próprio caos humano
esses esqueletos, esquálidos imundos
são zumbís modernos desterrados surdos
cegos, em agonia loucos moribundos
Onde vive a ética, arte, o belo o brio?
Onde enterraram todo nosso brilho?
Onde esconderam o nosso passado?
Onde encontrar do Oriente, os Magos?
Quero a estrela, indicando a estrada
o incenso, a mirra, o ouro nas escadas
preciso sair da morbidez que mata
sonhos, esperanças, nossa fé e calma.
Vânia De Farias Castro
Em 17 de janeiro de 2020
Imagens: Google
Já quis muito da vida
hoje, quero apenas viver
já tentei endendê-la, entretecê-la,
hoje, só quero esquecer
do que quis um dia
das ave marias, de tantos pai nossos
de ver os devotos, em contradição

Já sonhei muito na vida
hoje, quero apenas adormecer
sem sonhos sem nada
só a vela apagada
dormir, e acordar na escuridão...
Quem sabe eu entenda
olhando as tendas, dos refugiados
vivendo qual gados, aguardando o abate
por tantos fanáticos, matando a semente
antes da plantação.
Já amei muito na vida
o amor sensual, a chama acesa
embaixo da mesa, o afiado punhal
do desfalque afetivo
dos amores furtivos
fugindo atrevido, levando o quinhão
antes oferecido, aliança quebrada
minhas pernas atoladas
nos pântanos quietos
quais fúnebres féretros
com braços abertos
aguardando o abraço
no ato final.
Vânia De Farias Castro.
Em 19 de janeiro de 2020
Imagens: Google
Loucura é continuar sonhando
quando somos despertados sob os gritos do silêncio
é também insanidade continuar amando, quando o amor
foi sacudido pelo tempo e pelos ventos...
Loucura é esperar o que jamais chegará acalentando
e o boi da cara preta, não tarda a chegar já que não adormecemos
alienados somos nós, quando ansiamos o que já não quer pousar em nosso ninho
o que não cabe mais em nosso abraço
o que não canta mais nosso canto
nem vibra em nossas fímbrias.
É também loucura, forçar ou torcer
as fibras da memória para esquecer de assalto
o que se instalou devagarinho e se assentou
como fosse seu banquinho.
Vânia De Farias Castro.
Em 20 de janeiro de 2020.
Imagens: Google.
Fui despejado de minha casa
de minha casa de cristal
ao questioná-la me respondeu:
"não quero românticos, nem sonhadores
sou muito frágil, para suportá-los
vocês, me causam calafrios e horrores".

Redargui surpreso
"Mas fui eu quem te construí
é justo eu ficar aqui?
Ao relento e abandonado
para onde eu deveria ir?"
Ela não se abalou, afinal era de cristal
sua fragilidade era aparente
sua beleza de tão transparente,
refletia seu interior
repleta de flores artificiais,
racionalizações e nenhuma emoção
"Deves seguir teu caminho,
ir em busca de teu passado ditoso
de tuas fantasias e alacridade
de teus festins onde não fui convidada
afinal, tua antiga casa era de tijolo
suas esquadrias de madeira de lei
e as ferragens de pesado e resistente metal"
Não tive outra opção senão seguir
afinal, ela poderia me cortar
ferir-me de morte, e com um pouco de sorte
eu poderia partir em paz...
Vânia De Farias Castro.
Em 21 de janeiro de 2020
Imagens: Google.
Na minha casa tinha candeeiro
dois ou três, não lembro bem
alumiando minha escuridão
protegendo-me dos fantasmas
dançando nas paredes fazendo estripulias
um candeeiro era minha companhia
aplacava minha solidão
não precisava de luz, só de sua presença
sentir que poderia dissipar os fantasmas
dependendo apenas de minha querecença.
gostava de olhar suas formas
sua manga alongada e elegante
a fuligem cobrindo suas bordas
e a tênue luz, me aquecia por instantes
brincava de graduar sua chama
o espírito vertical, em qualquer posição e gradação
clareando o homem
que se comporta feito a água
em qualquer recipiente permanece
na horizontalidade...
Sinto falta daquele candeeiro
já não consigo graduar a luz
que foge de mim, temerosa
com medo do que me tornei
Vânia De Farias Castro
Em 26 de janeiro de 2020
Imagens Google.
Minhas asas cresciam em direção ao vento
mas eu, me negava a voar
não conseguia sair nem por alguns momentos
da prostração, inércia a dominar
A escolha não foi deliberada
foram anos de indecisão e angústia
de ser refém da malícia e da astúcia
da avareza humana e do desdém
Minhas asas continuavam crescendo
à minha revelia, eu agora entendo
eram tão grandes, que poderiam pesar
em meu corpo esquálido, em vida morrendo
Mas elas foram se agigantando
em meu peito uma certeza acalentando
que o universo, era meu lugar...
Em verdade eu me negava a ser borboleta
e os esforços para sair do casulo
teimosamente me negara a respeitar
Hoje sei o que quero e posso:
sair da prostração e alcançar o ar.
Vânia De Farias Castro.
Em 23 de janeiro de 2020
Imagens: Google.
Ontem fui ao mercado
a procura de mim, do meu passado
da conversa amigável com os feirantes
da algaravia em uníssono das crianças
com seus molhos de coentros ao nosso encontro
procurei com saudades, as esteiras
estiradas no chão, com as sandálias
alpargatas de couro, as cangaias
recheadas de frutos e guloseimas
Procurei nas barracas a tapioca
o beju de farinha mandioca
as cocadas de coco, o café
temperando as manhãs com nossa fé
lá na frente encontrei as cantorias
os cordéis nos mostrando as maravilhas
as histórias do povo alegorias
e encontrei a mim mesma já perdida
as lembranças pensava esquecidas
encontrei os amigos, o abraço
a alegria estampada em seus traços
qual desenho de um mestre e seu compasso
tatuando em minha mente em um espaço
que pensei preenchido de cansaço
e do medo da vida, apatia.
Vânia De Farias Castro.
Em 03 de fevereiro de 2020
Imagens Google.
Eu, me cerco de pássaros
para aprender a voar
de árvores para dar bons frutos
de aguas, para contornar
meus próprios obstáculos

plumas ao vento
o frio sedento pra me alcançar
a sombra faminta pra me dominar
o inferno aberto a minha espera...

Estou quase pronta, mas tento aprender
com o vento, a soprar as dores
com o tigre a me aquietar
sem fome, sem medo, a me assombrar

aprendo ainda com as flores
a me vestir de cores
a perfumar os ares
a me deixar cortar

Vânia De Farias Castro.
Em 03 de fevereiro de 2020.
Imagens:Svetlana Melik-Nubarova
Ouvindo o som da gaita
penso na flauta
evito pensar nos ratos
ratos desta nação...
Não consigo, é inútil meu esforço
todos saíram de seus porões
estão nas ágoras, matanto a história
encharcando seus bolsos de ganância
estão matando de fome crianças e anciãos
até as cobras se enrodilham quietas
não querem se meter na festa
na festa dos ratos...
Cadê o flautista?
Necessitamos de arte de magia e de feitiço
de fadas e varas de condão
de bruxas duendes e elfos
todos para atrair os ratos
para devolvê-los aos seus porões
precisamos salvar nossas crianças.
Vânia De Farias Castro
Em 03 de fevereiro de 2020
Imagens: Google
Da janela de meu quarto
vejo homens trabalhando
arranha céus sobem acelerados
os couros dos homens nos curtumes do tempo
retornam à terra aparvalhados
Onde morar?
O despejo os espera
constroem reinos,
são expulsos dos reinados
trabalho de homem,
vida de gado
em suas mãos: calos
em seus estômagos: o vazio escancarado
a morte ri de suas caras
nos olhos: a poeira da argamassa
na mesa: falta a massa
no corpo: sobra fadiga.
Vânia de Farias Castro.
Em 05 de fevereiro de 2020
Imagens: Google.
É muito difícil ser inteiro
uma parte se afasta
a outra fica
uma chora aflita, a outra ri
uma parte da gente até que aceita
outra grita de dor ainda se irrita.

Precisando de um tempo, vou ali
partirei pra bem longe de minha parte
a saudável, esgotou a munição
suas flores queimadas, hoje incenso
seus temores jogados em porão...
Minha parte megera, hoje domina
pensa em queima de fogos na nação
quando ver tanta infâmia se agita
solitária divide a multidão
Já a outra é só resiliência
sonha e brinca com amigos imaginários
joga barra bandeira, empina pipas
pinta nossa bandeira, cor primária
minha parte arteira pinta e borda
já a outra é só destruição
joga tintas pincéis, pela latrina
sonha caras pintadas dando as maõs.
Vânia de Farias Castro.
Em 12 de fevereiro de 2020.
Imagens Google.
Voei livre para dentro de mim
arrisquei na queda, ficar em pedaços
não sei nadar em tanto embaraço
águas profundas, meu confuso ser
Voei decidida tentando entender
onde a mulher destemida afoita?
Cadê os amigos solidários soltos?
Sem os grilhões do poder e ter?
Mataram todas as crianças sonhadoras?
Encarceraram-nas em tristes masmorras?
agora reclamam do entardecer?
Nada pra dizer, a não ser adeus
deixem-me remar neste rio que é meu
ou no oceano a procurar tesouros
sei que encontrarei o que afundou
tempo esperança meu santo Graal
espero que o Self seja meu senhor!
Vânia de Farias Castro.
Em 13 de fevereiro de 2020
Imagens: Google.
Ah o ambíguo...
Na política, no amor
alegria ou suplício
o muro é seu retiro
ainda não entendi
o mistério do equilíbrio
se anda bêbado ou aflito
mas se quedar em um muro
deve haver algum perigo
dia com sol escaldante
sentado a meditar
sobre o próximo passo
se é que consegue dar
sair da zona escolhida
pra seus afetos agradar
ou vítimas, não sei ao certo
eis que o ambíguo é astuto
não trepa nem sai de cima
a não ser no triste muro
Deus me livre desta praga
que nos mata em conta gotas
nem arma fria ou quente
apenas a indiferença
adornada de decência
pensando que somos trouxas.
Vânia De Farias Castro.
Em 16 de fevereiro de 2020.
Imagens: Google.
Recebi o conselho de uma amiga:
cortasse o cordão umbilical
quase sigo o conselho da atrevida
interrompendo um fluxo natural
esse cordão permanece alimentando
de força, coragem, determinação
somos extensão de nossas mães
cortando a matriz de energia
falecemos, em lenta agonia
sem consolo ou comiseração.
Palavras soltas ao vento
conselhos perversos sem senso
quando nossa arvore se vai
ainda nos alimentamos de seus frutos
por toda a eternidade...
Quando nossa arvore parte
para frutificar em outros terrenos
ainda nos apegamos às suas raízes
nos salvando das tempestades e furacões
de vocês, falsos profetas
conselheiros de oportunidade
Vânia De Farias Castro
Em 28 de fevereiro de 2020
Imagens Google
Quando minha chama apagar
deixem-me quieta
nada de choro,
e a luz de que preciso, é de suas orações
Não precisarei mais de flores
em meu jardim, vocês florescem todos os dias
outros, quais borboletas
polinizam minha vida de esperança
Quando minha chama apagar
talvez volte a iluminar outras paragens
e vou necessitar de forças para o recomeço
de óleo para distribuir o que aprendi com vocês
Espero que entendam minha petição:
a saudade é natural, mas a viagem é necessária
deixem-me descansar por um tempo
e quem sabe nos encontraremos para novos planos.
Vânia De Farias Castro
Em 16 de fevereiro de 2020
Imagens: Jolanta Gładysz
Parei de me esfalfar
de remar contra a maré
melhor dar marcha a ré
aquietar um pouquinho
cansei de correr
chorar penar, sofrer
na vida há dor e agonia
eu seria exceção?
Num mundo de drogadição
roubalheira escancarada
canalha, cara lavada
filhos da puta nação
roubam até nosso cordão
umbilical da barriga
melhor me contentar
com o ninho das lombrigas
que briguem por comida
vou morrer de inanição
Já estamos todos mortos
uns de fome, outros de gozo
uns de morte outros de fogo
da ganância endinheirada
Já estamos enterrados
covas cavadas por nós
não precisamos de algoz
nosso ego, traz enxada
a pá e a picareta
seremos todos cobertos
com lençol de areia preta!
Vânia de Farias Castro.
Em 16 de fevereiro de 2020
Imagens: Google.
Já fui moço também
e acreditei em amor
em finais felizes
em contos de fadas
Hoje entendo dos sentidos
o literal: o que corta, cega, não afaga.
As paixões grosseiras confundidas
com sentimento nobre e digno
Já fui moço um dia
e acreditei em paraíso
como espaço geográfico
é pura enganação
pode ser transformado em inferno
do momento de êxtase,
para a cruel indiferença
do momento de euforia
para o da loucura
quando matamos motivados
pelo ciúme e insegurança
por nossos complexos
camadas e camadas de dor e desespero
de abandono e confusão
mental, emocional e mesmo física
nos contorcemos de dor
quais acrobatas com cólera
e atiramos projéteis de desprezo
em quem ousar cruzar nossos caminhos...
Já fui moço um dia
e acreditei na humanidade.
Vânia de Farias Castro.
Em 17 de fevereiro de 2020
Imagens: Google.
Astrolábio dos amores!
Ajuda-me Ptolomeu
já não sei como aferir
ou se há aferição possível

A depender da maré
a terra do amor pode sair do centro
tento entender, mas não concentro
resta-me o engodo

Acode-me amigo!
Procurei em teus mapas
e nada encontrei

além de decepções e perigo
perigo de vida
vida de morte
o amor agoniza sem extrema unção.

Vânia De Farias Castro
Em 17 de fevereiro de 2020
Imagens Google.
Gosto dos inocentes
principalmente dos ingênuos
carinhas de porcelana

a Alemanha nazista está aqui
com suas bonecas pálidas e frias
matam, destroem, excluem
mas não entendem nossos gritos

lágrimas e desespero
esperanças incineradas
alianças liquefeitas

Gosto ainda mais dos inofensivos
das suas capas de cordeiros
de suas lãs, que queimam ao nosso toque
de sua indiferença quando a dor acena
quando a necessidade adeja

Estes são imbatíveis
na grosseria, invigilância
maledicência e intolerância
vivem num mundo à parte
para eles, sempre a maior
de preferência a mais suculenta.

Vânia De Farias Castro
Em 17 de fevereiro de 2020
Imagens: Google.
Quando nossa arvore se encanta
fazemos beberagens com as cascas de seu tronco
fortaleceNdo nosso psiquismo
dos parasitas e hospedeiros
que tentam aniquilar nossas forças

Quando nossa arvore morre
para renascer noutros sítios
continuamos sendo velados
por sua sombra amiga

por seus frutos doces e coloridos
os frutos da ternura
das renúncias e noites insones
para que nós, pequenos brotos
um dia nos tornemos árvores frondosas
como fora a nossa árvore mãe.

Vânia De Farias Castro
Em 28 de fevereiro de 2020
Imagens Google