terça-feira, 17 de novembro de 2015

PARTO DOLOROSO

PARTO DOLOROSO
Vânia de Farias
Preciso caminhar, como preciso!
Sair desta inércia a que me prostro
meu corpo se contrai como num parto
o filho quer sair, mas não suporta:

a mãe por medo ou dor, se enrijece
dificultando assim, sua passagem
meu parto é doloroso quase corta
minha garganta em som alucinado
não sai um só gemido, só pecados
me lembro das beatas com o missal
o padre, o sermão, o crucifixo!
Só lembro de Jesus e sua dor.
Espero o Cirineu no meu suplício
mas esse, se atrasa ou desertou...
Mas vejo agora a Mater Dolorosa
seu rosto angelical a refletir
ao vendo o filho morto, sem pecado
julgado pelo homem pecador
e esse paradoxo incomoda
querendo entender qual a lição
que posso extrair desse martírio
amar sem mesmo ter um coração
mas o que vejo agora:é Caronte?
que sobe para a terra a me sondar
pressinto o mau agouro em seu semblante
o condutor das almas vem mostrar
que meu inferno é triste e abissal
nem Dante viu paisagem tão sinistra
Caronte, o que queres? Passageiros?
Me levas pois embora dessa dor
mas nem o velho e mestre dos barqueiros
me quer por companhia em meu torpor.
Me informa que na vida a agonia
não cessa, ao fugirmos acovardados
preciso então viver nesse reinado
de angústia e de saudade todo dia.
Vânia de Farias
Em 28 de outubro de 2015.

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