terça-feira, 4 de abril de 2017

MOMENTO SINGULAR

MOMENTO SINGULAR
Vânia de Farias.

Lembro-me amigo, de momento singular
sofria de desamparo, desnutrição nuclear
desconfiava da terra e seus terríveis dragões
roubavam naquele instante, o fruto de meu trabalho


foram anos de labuta dispensando o agasalho
do descanso, da inércia, dos sentidos embriagados
das férias e dos finais de semana emoldurados
com os sóis, dos devaneios, dos festejos sem horários

mas eis que chega a hora, do algoz a me cobrar
se considera o senhor, daqueles bens a julgar
por sua pressa em tomar, de assalto, o que pensei
me pertencer, desde antes, da hora em que acordei

Sentia-me acabrunhada, sem entender tal sinistro
como se tira do outro, e parte com o feio fito
em busca de outros tolos, ingênuos, despreparados
e largam o desfalcado, ao relento na estrada

abatido, sem um rumo que lhe tire do letargo
Apresento-te o quadro dos que ficam ao abandono
da sorte e seus asseclas, neste mundo de enganos
mas naquela triste noite, aconteceu o impensado

assistindo ao espetáculo, de Sivuca em seu reinado
de sons, cores e magia, dançando em seus teclados
seu grito de agonia, por ter um dia amargado
a decepção soberba, em seu peito, então minado
pela revolta surda, dos que são ignorados

Mesmo assim, com emoção, vencendo o mal sofrido
nos brindou com um espetáculo, dos mais belos já ouvidos
pela plateia em êxtase diante daquele anjo
com a farta cabeleira, adornando os seus anos

seus dedos ágeis, firmes, nos invadindo de assombro
presenteou essa terra, com acordes, melodias
invadindo nossas almas, de gratidão e alegria
e a noite se fez festa, diante da galhardia

com o mestre a ensinar, desapego e altruísmo
Entendi entre aturdida e perplexa quase em transe
que não existe no mundo quem consiga nos tirar
o que trazemos na alma, sentimento, emoção

deslumbrados ante o belo, e repleto o coração
da magia do encontro, sem a tarja da ilusão.
quem poderia roubar, o instante de magia?
de ternura e gratidão, por aquela melodia
ofertada com ternura por alguém que conhecia
o abandono, o descaso, ostracismo de um dia?

E a noite se fez festa nos recessos de minha alma
não precisava de teto, cobertor ou de agasalho
se eu tinha o sentimento, me cercando de amparo
de alegria sem jaça, me devolvendo a calma.

Vânia de Farias Castro
em abril de 98
Imagens Google.

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