domingo, 2 de abril de 2017

HÓSPEDE VOLUNTARIOSA

HÓSPEDE VOLUNTARIOSA
Vânia de Farias

A raiva puxou a cadeira
e sentou determinada
me encarou de frente e não quis sair
convidei-a delicadamente
a se retirar de meu domicilio mental
a mesma é decidida:
sairá após uma conversa esclarecedora

Não aceita tergiversações
nem delongas
quer que eu entenda seus motivos
e o que a mobiliza.
Caso contrário, não sairá.

Tento em vão, uma conversa amena,
de vizinhas que se sentam
prum café com bolo de milho.
Sirvo-lhe com a melhor xícara
que acabei de lavar...

Limpei toda a poeira que há muito
se instalara na mesma com desenvoltura.
Mas nada adiantou meu cuidado
e momentâneo requinte
a raiva é senhora de si
e cheia de desejos inconfessos
não se interessa por formalidades
nem com sofisticação de improviso.
Detesta hipocrisia...

Ah! Agora entendo sua motivação
pelo menos, temos alguma coisa em comum:
não tolero também hipocrisia.

Estive cercada de pessoas gentis,
mas que num contato mais próximo fui
surpreendida com um animal zanho e arisco
ou pior: pronto para morder minha garganta
num salto rápido e certeiro...

Me livrei por pouco
entre aturdida e assustada.
A criatura simulada que consegue enganar
a quase todos naquela vila
carrega no peito uma cruz de pinho
tentando ostentar pureza e pacificação
que num lapso de segundo se evade
mostrando a cara simulada e agressiva.

Nunca se envolve com qualquer assunto
que não venha a lhe auferir
vantagem ou encômios...
Como é fofa e elegante a tal cobrinha
e só percebemos suas enormes presas
quando estamos muito próximos
e descuidados, claro!

Mas da mesma forma que se mostram letais
e em sinuoso movimento,
se retraem
guardando seu veneno
para outro momento que se fizer necessário.

Entre a raiva e a estupefação
tentei me recuperar sem sucesso
aquela aparição medonha
ainda me causa calafrios
todo o meu corpo se contorce de dor e agonia
diante de minha incapacidade de raspar
camadas e camadas de verniz social
mostrar a madeira podre
e corroída pelos cupins
da soberba, indiferença e do egoísmo.

Sua voz é mansa e me parece
quase um miado
Uma gatinha manhosa,
recebendo e dando carinho
a quem cruzar o seu caminho
contanto que não se aproximem muito

eis que se depararão
com uma enorme fera
pronta para abocanhar e estraçalhar
sem qualquer fome
apenas pelo prazer de matar, de destruir.

Pensei em me matricular
numa igreja dessas
quem sabe a mesma que a serpente frequenta
para fazer um curso de hipocrisia,
e aprender a identificar
suas manhas e requinte
na arte do simulacro

Alguns agentes da UAC
(Unidade de Análise Comportamental)
estudam o comportamento do criminoso
para entender suas motivações
para então conseguir caçá-lo e prendê-lo

acredito que numa igreja dessas
aprenderei como sente
e principalmente como pensa
uma narcisista impostora daquele calibre
e eu possa enfim, rasgar sua alva túnica
e mostrar os andrajos
que vestem um corpo
já inclinado para baixo.

Quem sabe um dia
poderemos prendê-la nas redes
de sua própria indiferença e hediondez.
Agora percebo
a minha hóspede se preparando para sair...

Vânia de Farias Castro.
Em março de 2017
Imagens Google.

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