domingo, 2 de abril de 2017

ALVENARIA DE CACOS

ALVENARIA DE CACOS
Vânia de Farias.

Dos cacos de minha revolta
ergui uma imensa parede
entre um e outro, cabeças de bonecas
asas de anjos, de borboletas...


A porcelana cortava meus pensamentos
que se misturavam e se contorciam
entre a dor, o ciúme e a ira
algumas gérberas, jaziam no chão
e suas pétalas, antes sorridentes
e viçosas num vaso de cristal
agora jaziam entre a tristeza e perplexidade

também eu, compartilhava desses sentimentos
todas aquelas peças de louça,
vidro e cristal, agora perplexas
estavam se perguntando

o que havia acontecido comigo e com elas
afinal, foram cuidadas e amadas por anos
e agora, todas ali, misturadas
num alucinado quebra quebra

também perderam suas identidades
na dor da traição
Sim, também se sentiam traídas
e humilhadas, e seus pedaços
formavam um mosaico estranho e caótico

O caos também se instalara em mim
entre a confusão da descoberta
e a constatação de que fora enganada
desde os dias primeiros

os dias da inocência e ingenuidade
Afinal, também eu, havia sido cuidada
como uma bonequinha de porcelana
como um bibelô, que se decora o quarto

ou mesmo um troféu de cristal nas mãos de um impostor
que nada fizera, para ostentar aquele troféu
apenas simulacro e enganação,
mas eu, a semelhança de um biscuit
me sentia segura, em ser mimada
sem cogitar, que também era enganada.

E agora, vejo essa imensa parede
feita de cacos e argamassa
e preciso destruí-la, e deixar esse espaço maior
esta opressão e confusão
já não fazem nenhum sentido para mim
deixei de ser biscuit e me tornei mulher.

Vânia de Farias.
Em março de 2017
Imagens Google.

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