quarta-feira, 15 de março de 2017

QUANDO EU PARTIR

QUANDO EU PARTIR
Vânia de Farias.

Quando eu partir
que farão com o meu nome?
criarão pequeno verso
ou cantiga de assombro?

Como as cantigas de ninar
de meu tempo de infante?


Quando eu partir
que dirão que fui um dia?
Incansável sonhadora,
não obstante a covardia
dos meus pares, mais ditosos...

Mulher doce por momentos
mas tirana e atirada
dependendo do repente
que se faça, nessa data...

Fortaleza para os fracos
mas fraqueza que alivia
as angústias dos amigos
que ainda sofrem a agonia

da incerteza, quanto a vida
dúvida atroz que lhes visita
pode ainda ser guarita
para enxergar mais longe...

Para isso,  deixarei
alguns livros bem usados:
Galeano, Jean Paul Sartre
Lapierre, Jorge Amado.

Na Cidade da Alegria
aprenderás com a esperança:
que dignidade e honradez, não
são produtos que se compra.

Nos Subterrâneos da Liberdade
aprenderás com a coragem:
que o sonho, e a utopia, não
deixamos na viagem...

Nas veias da América
aprenderás com a vontade:
que é preciso conhecer
para enfrentar tantos covardes.

Deixarei ainda para ti:
Simone de Beauvoir, já na velhice
a te ensinar que os problemas e
abandono, ainda existem...
E insistem!

Cervantes, e seus sonhos quixotescos
a nos mostrar
que é preciso imaginar com fantasia
vendo o brio e a beleza
mesmo quando nossos monstros
são o feio e a desonra.

Fernando Pessoa, Graciliano
Castro Alves, Vitor Hugo, Epíteto
Cecília Meireles e Cora Coralina
abrindo caminhos luminosos nas
esquinas...

Bifurcações nas estradas
empoeiradas...
Amor, onde não restar
mais nada...
Esperança, quando já não houver bonança.

Deixarei também uns cordéis amarelados
uns vinis, muito antigos e amados
deixarei ainda uns vidrilhos
para que possas rebordar as tuas máscaras
quando o carnaval se aproximar...

Não deixes de visitar
os quatro cantos de Olinda
seus bonecos a desfilarem
pelas ruas e ladeiras  coloridas
com passistas e artistas da cidade

não esqueças de Pitombeira e Elefante
Vassourinhas e Bacalhau do Batata
sorria com as crianças nas calçadas
com suas batas e castanholas em suas mãos:
são as almas.

Veja ainda o museu do mamulengo
tradição e o novo dia se encontrando

Quando eu partir joguem todas as
minhas queixas...
Não lhes servirão pra nada
sigam em paz com alegria
esqueçam, se já fui triste um dia
só recordem dos sorrisos com
que bordei o meu rosto.

Da vontade de viver
mesmo aos tropeços
Dos encontros com os amigos, na cozinha
do trabalho edificante que eu tinha
dos amores, tão amados, que viviam
a me visitarem sempre que chovia...

Peço-te ainda comovida:
não chores minha partida!
 

Vânia de Farias Castro.
Janeiro de 2016.
Lei nº 9.610, de 19.2.1998 (Lei de Direitos Autorais)
Súmula nº 386 do STF
Imagem: Google

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