quarta-feira, 15 de março de 2017

ANIMÁLIA

ANIMÁLIA
Vânia de Farias

Engulo a dor há muito represada
minha garganta se contorce,
se enrijece

Ajuda-me Senhor! A entender a humanidade
que a cada dia se animaliza se envilece.


Há muita loucura sambando em nossas praças
hediondez e amargura faz a massa
desses homens embriagados de poder:
seja a força, o dinheiro ou o sucesso
usam todos pra matar ou pra morrer

eis que morrem assim como suas vítimas
de soberba, inanição na fonte terna
da vivência amorosa com outros seres
na certeza de viverem a vida eterna.

Que mal Dandara fez a esses párias?
já esqueceram o compromisso com o outro
se intitulam homens, se comportam
como cachorros, alucinados por um osso

por um momento de estúpida exaltação
de seus sentidos, há muito tempo estiolados
vivem à margem a semelhança de um ladrão
roubando a vida sem resquício de remorso.

Espero em Deus, Dandara e em Suas leis
que são imutáveis e justas, quanto belas
que estarás muito em breve, em Seus braços
e esquecerás, a torpe terra e suas feras.

Acordarás desse suplício que vivias
sendo humilhada e enxotada pelos monstros
homens dementes sem um traço de empatia
só covardia a estampar seu traje imundo

se pensam homens, mas não passam de uns vermes
alucinados na podridão em que se escondem
intolerantes, desconhecem a si mesmos
como queremos que conheçam a outro homem?

Vânia de Farias.
em março de 2018.
Por ocasião do assassinato da travesti
Dandara dos Santos, em Fortaleza,
de forma cruel, por cinco bestas humanas.

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