quarta-feira, 27 de setembro de 2017

AVISO PRÉVIO

AVISO PRÉVIO

Não te falei filho meu?
Que mesmo se te avisassem
mesmo que esperasses
a dor com olhos abertos
quando ela chega perto
dói, dói do mesmo jeito
se chegasse de assalto.


Pessoa tinha razão
quando falava da dor
na procissão sem andor
andamos pelo avesso...

Não te falei filho meu?
Que preparo nesse caso
escafandro é mais um fardo
rasgando a nossa pele

não sei o que te impele
a acreditar na promessa
que existe a dor certa
acertando o coração

desconcertando a razão
embrulhando o estômago
toda dor causa incômodo
desconforto dos medonhos
nos cegando a visão.

Paradoxo acreditar
que a crença no esperar
pela dor antes da hora
apascenta a sua fome

que nos come sem demora
esperando pela dor
ela dói antes e no tempo
já é manso e consenso

que abate qualquer vivente
tira a vontade da gente
de viver dentro do corpo
não existindo conforto
quando a maldita se assenta

Ela se espalha e ri
ri alto, dá gargalhada
enlutando a estrada
por onde a doida passar

que adianta pensar
que ela estando a caminho
lhe tiramos o espinho
antes dele nos sangrar?

Não te falei filho meu?
A dor é fera medonha
quando ela se assanha
não adianta gritar

Xingar, pular, mutilar
com decibéis dissonantes
os ouvidos dos passantes
nos comparando aos pedintes
com dinheiro pra gastar

Que soframos quietinhos
pra enganar a atrevida
não lhe dando mais guarida
nem espaço no lugar

quiçá ela desapontada
parta pra outras pousadas
indo por lá se alojar
deixando o peito vazio

triste, minguado e frio
na espinha um arrepio
quando sente sua ausência
agora só a semente
da esperança a aflorar!

Vânia de Farias Castro.
em setembro de 2017.

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