segunda-feira, 18 de setembro de 2017

É preciso ter coragem...
Para ser negro e servir
ao branco esnobe e transtornado
em seu comportamento narcisista.
É preciso ter coragem
para transpor as barreiras de gênero
e não se transformar em asqueroso pusilânime
odiando e dividindo, matando e devorando
os sonhos e anseios de muitos
Para ser mulher, quando tantos
ainda não se decidiram por
se transformar em seres humanos
teimando em continuar na condição
de machos, numa negativa contumaz
em ascender para a condição de homens.
É preciso ter coragem
para rasgar as próprias entranhas
e costurá-las quantas vezes
se fizerem necessárias
e qual colcha de retalhos
proteger e aquecer do frio
tantos que ainda sofrem
a friagem dos corações destituídos
de compaixão e ternura.
É preciso ter coragem
para deixar seus filhos sozinhos
para cuidar e construir
os filhos dos outros
quando aqueles não construíram
ainda a própria edificação
para vê-los se transformar
de crianças meigas e carentes
em adultos, tão frívolos e arrogantes
quanto seus próprios pais
chicoteando com sua empáfia
aqueles que um dia o amaram
e cuidaram, as custas da solidão
dos próprios filhos
lhes negando a companhia
para lhes garantir o sustento
e agasalhos...
E para continuar a viagem
mesmo que despojados de quase tudo
só lhes restando a esperança
de que no futuro, seus filhos
não passem pelas mesmas estradas
É preciso ter coragem
para viver entre cobras
destilando seu veneno mortal
a cada manhã, numa tentativa
inútil de aliviar sua solidão e amargura
para subir as culminâncias
do ser espiritual e imortal
e após o auto encontro
retornar para acalentar e apascentar
outros que perderam o endereço
de si mesmos.
Vânia de Farias Castro.
julho de 2017.

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