terça-feira, 5 de setembro de 2017

NOSSAS DORES

NOSSAS DORES
Anastacio Pereira
- Ah! Quantas sinto!
Aquartela me em grutas disformes de tempos.
Envida tantos esforços no meu triste eu.
Me faz vivo sem vida.
Oh! Dores! Pena não ser medo
posto que já me tens em degredo.
Vânia de Farias
- Deixei de mensurá-las,
já não há aferição possível...
Nos olhos, rios d´lágrimas vertidos,
sem consolação ou mesmo alívio.
Ó Deus, vem cuidar deste teu filho inerme!
Que hora vive à míngua feito verme,
sem ferida aberta que o alimente,
ou outra podridão que morra
para que o mesmo viva.
Anastacio Pereira
- Riacho de lama
que abriga em campana
o virulento verme
que segue caldante abaixo
no seio de um novo medroso doído.
Vânia de Farias
- Acode Pai!
Não suporto mais este suplício,
a solidão já me consome o espírito,
olho em volto e até minha sombra foge...
E as andorinhas voaram pra outros cantos...
Não suportaram meu sorriso lívido
foram procurar fácies menos tristes!
Anastacio Pereira
Sucumbi!
Há vida lá fora!
Vânia de Farias
Mas nada vejo,
eis que minha espora,
prende meus joelhos em contrição terrível!
Procuro em vão, a aurora perolada...
Mas apenas vejo escombros e mais nada,
nas minhas paisagens o luto fez morada
e a esperança partiu com o inimigo.
Anastacio Pereira
-Pisaste? Que pasto?
Sou já o pasto pisado
que acolhe as verminosas e evoca
em gases purulentos
sombras do vão.
Se em mim pisastes perdida estás
sem volta de se encontrar
Vânia de Farias
-Então somos dois perdidos sem perdão...
Nessa estrada lúgubre perdi tuas mãos,
levanto os meus braços e grito por socorro!
Vivo, morta estou!
Morta, estou viva!
Não vejo razão de viver sem sentido.
Anastacio Pereira
-Ah! Se foi na batalha,
fui cobarde, recolhido,
travo meu luto, mas não vou à guerra
Covarde sou em toca perdido.
Resta-me teu penar culposo.
Te esguelhas cega?
Trazes-me luz?
Não fugas do meu eu preciso de tua guia.
De teu sopro forte
levando o pó insalubre
desse meu chão em sangue.
Vânia de Farias
-Foges dessa luta,
fraco e envergonhado
em toscas ruínas, caiu teu reinado
tua espada parte-se em mil fractais
sento nessa estrada, fiquei para traz,
com minha loucura e meu pouco siso...
Como fui estúpida e tola errante.
Resta-me um defunto,
meu futuro amante,
minha companhia só a cupidez,
com os cacos agora, parte-me de vez!
Anastacio Pereira
- Ressuscitado?
Em louvor festivo?
Nos parrerais divinos do eros
em festas trombetadas
sonoras em gargalhadas
da embriaguez sugada
da dolente amada.
Vânia de Farias
-Nossa história enfim,
teve seu desfecho.
A partir de agora,
não mais só o deixo
serei tua sombra onde tu andares...
Nessa travessia,
abrirei os mares
para a descoberta de outras moradas
onde a ventura faz-se enamorada,
dos loucos amantes, que se encontraram
para o enlace, na festa do Olimpo,
chamemos os deuses:
Selene e Hélio, para o cortejo,
e Endimião que acorde agora,
posto que Selene já o espera há horas...
E o nobre Kronos, é quem dorme agora!
Vânia de Farias Castro
e Anastácio Pereira.
em agosto de 2017.

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