domingo, 24 de março de 2019

Sairaf

Sairaf nunca gostou de paixões... Da inveja que endoidece, do ciúme que envilece, das negras prisões da vida em bando. Na infância era atraída pela igreja local, e se sentia bem assistindo as missas aos domingos, mesmo que implicasse com as beatas - chegava mais cedo para tomar-lhes os lugares- ficava contente e rindo para si, ao vê-las incomodadas e dominadas pela hipocrisia, impotentes para reivindicarem seus lugares.
Sua vida era feliz, e aproveitava todas as oportunidades para brincar, transformava qualquer saia de papel crepom em um figurino para o próximo evento, e sua alegria era tanta que Adnav ao ver sua pequena filha entusiasmada e envolvida nos seus empreendimentos, juntava-se a mesma e ainda envolvia outros adultos da comunidade, os homens montavam palcos, outros providenciavam a iluminação, e em algumas noites, o bairro era invadido por festa e animação, e as singelas saias de papel, substituídas por belos figurinos confeccionados por Adnav, saias de cambraia bordada, chapéus e sapatilhas de feltro, colares de aljofre e outras crianças representando naquele palco sem entenderem a dimensão do que estavam vivendo... Só entendiam de brincar, dançar, representar e cantar. Eram assim aquelas crianças, amigas de Sairaf.

Vânia de Farias Castro.

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