Sairaf nunca gostou de paixões... Da inveja que endoidece, do ciúme
que envilece, das negras prisões da vida em bando. Na infância era
atraída pela igreja local, e se sentia bem assistindo as missas aos
domingos, mesmo que implicasse com as beatas - chegava mais cedo para
tomar-lhes os lugares- ficava contente e rindo para si, ao vê-las
incomodadas e dominadas pela hipocrisia, impotentes para reivindicarem
seus lugares.
Sua vida era feliz, e aproveitava todas as oportunidades
para brincar, transformava qualquer saia de papel crepom em um figurino
para o próximo evento, e sua alegria era tanta que Adnav ao ver sua
pequena filha entusiasmada e envolvida nos seus empreendimentos,
juntava-se a mesma e ainda envolvia outros adultos da comunidade, os
homens montavam palcos, outros providenciavam a iluminação, e em algumas
noites, o bairro era invadido por festa e animação, e as singelas saias
de papel, substituídas por belos figurinos confeccionados por Adnav,
saias de cambraia bordada, chapéus e sapatilhas de feltro, colares de
aljofre e outras crianças representando naquele palco sem entenderem a
dimensão do que estavam vivendo... Só entendiam de brincar, dançar,
representar e cantar. Eram assim aquelas crianças, amigas de Sairaf.
Vânia de Farias Castro.
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