domingo, 5 de fevereiro de 2017

QUANDO EU PARTIR

QUANDO EU PARTIR
Vânia de Farias.

Quando eu partir
que farão com o meu nome?
criarão pequeno verso,
ou cantiga de assombro?


Como as cantigas de ninar
de meu tempo de infante?

Quando eu partir
que dirão que fui um dia?

Incansável sonhadora,
não obstante a covardia
dos meus pares, mais ditosos

mulher doce por momentos
mas tirana e atirada
dependendo do repente
que se faça, nessa data...

Fortaleza para os fracos
mas fraqueza que alivia
as angústias dos amigos
que ainda sofrem a agonia

da incerteza, quanto a vida
dúvida atroz que lhes visita
pode ainda ser guarita
para enxergar mais longe...

Para isso,  deixarei
alguns livros bem usados:
Galeano, Jean Paul Sartre,
Lapierre, Jorge Amado.

Na Cidade da Alegria,
aprenderás com a esperança:
dignidade e honradez, não
são bens que se compra.

Nos Subterrâneos da Liberdade,
aprenderás com a coragem:
que o sonho, e a utopia,
não deixamos na viagem...

Nas veias da América
aprenderás com a vontade:
que é preciso conhecer
para enfrentar tantos covardes.

Deixarei ainda para ti:
Simone de Beauvoir, já na velhice
a te ensinar que os problemas e
abandono, ainda existem...
E insistem!

Cervantes, e seus sonhos quixotescos,
a nos mostrar que é preciso imaginar com fantasia
vendo o brio e a beleza,
mesmo quando nossos monstros,
são o feio, a desonra e amonia.

Fernando Pessoa, Graciliano
Castro Alves, Vitor Hugo e Epíteto
Cecília Meireles e Cora Coralina
abrindo caminhos luminosos nas esquinas,

bifurcações nas estradas empoeiradas...
Amor, onde não restar mais nada...
Esperança, quando já não houver bonança.

Deixarei também uns cordéis amarelados
uns vinis, tão antigos e amados
deixarei ainda uns vidrilhos
para que possas rebordar as tuas máscaras

e quando o carnaval se aproximar...
Não deixes de visitar os quatro cantos de Olinda
e seus bonecos a desfilarem
pelas ruas e ladeiras, coloridas
com passistas e artistas da cidade

não esqueças de Pitombeira e Elefante
Vassourinhas e o bacalhau do batata,
sorria com as crianças nas calçadas
com suas batas e castanholas
em suas mãos -são as almas.

Veja ainda o museu do mamulengo
tradição e o novo dia se encontrando.

Quando eu partir, joguem todas as
minhas queixas...
Não lhes servirão pra nada,
sigam em paz com alegria

esqueçam, se já fui triste um dia
só recordem dos sorrisos com
que bordei o meu rosto.
Da vontade de viver, mesmo aos tropeços

Dos encontros com os amigos, na cozinha
do trabalho edificante que eu tinha
dos amores, tão amados, que viviam
a me visitarem sempre que chovia...

Quando eu partir,
lembrem apenas dos abraços!

Vânia de Farias Castro.
Janeiro de 2016.
Lei nº 9.610, de 19.2.1998 (Lei de Direitos Autorais)
Súmula nº 386 do STF
Imagem: Google

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