segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

RELEITURA

RELEITURA
Vânia de Farias

Enquanto leio a mim
uma onda gigante se aproxima
suas águas violentas, são a anágua
da mulher até a morte, espancada


uma mulher alegre, com lábios em febre
da fogueira de suas entranhas,
emergem feito vulcão, labaredas azuis
mas hoje apenas manchas vermelhas
em seu seu corpo, agora nu

enquanto leio a mim
uma brisa suave me toca
são os sonhos, de outras tantas
utopias, quiçá, em suas tocas

quem tocará sua alma?
Com ramalhetes de sons
desvendando seus muitos segredos
e outros tantos que fugiram em degredo

quem ouvirá os seus cantos?
melodias coloridas, como os passistas
nas ladeiras íngremes de Olinda
ou os bonecos gigantes nos quatro cantos

o seu canto se fez grito
e suas notas voaram até o infinito
querem espaço, tempo, recuperar sua voz
voltar a cozinha, caso queiram...

cuidar de seus filhos, do marido
ou do pai, já cansado, na hora derradeira
Querem fazer compras no mercado
conversar com o vendedor de frutas
cantar no escuro, após um dia de labuta

tomar banho na biqueira, banho de chuva
tentaram alçá-las as alturas,
Umas tantas mulheres que se sentem livres
mas tiraram a liberdade de outras
de viverem o que lhes torna felizes.

Enquanto leio a mim
leio também os gritos das mulheres estupradas
por homens brutos, truculentos
que se extasiam ante a dor
ante olhos estilhaçados de espanto

e de seus fractais, suas vidas rolam
como num filme de terror
onde será que errou?
Andou pela rua escura, ou foi a microssaia
ou o decote sedutor?

Não! Foi apenas sua condição:
mulher!

Vânia de Farias.
fevereiro de 2017
Imagens google.

Nenhum comentário:

Postar um comentário