segunda-feira, 9 de março de 2020

Pois é, hoje é meu dia
mas não esqueço de ontem
quando fui queimada nas fogueiras da inquisição
quando fui acusada de bruxaria, por fazer as beberagens para aplacar as dores físicas dos homens...

Hoje é meu dia, e quem sabe eu receba flores
mas não esqueço das senzalas, quando os meu donos comiam meus quitutes, que aprendi com meu povo, e ainda se vangloriavam aos vadios seus iguais, que me comiam, à revelia de meus sentimentos e desejos, afinal eu era apenas uma mercadoria.

Hoje é meu dia, e receberei presentes
mas é difícil olvidar do dia em que meu marido saiu para comprar cigarros e jamais voltou, desertando dos compromissos assumidos, das juras e promessas e me deixando sete filhos, para criar, alimentar e educar, não esqueço das noites fazendo cocadas e dias, tapiocas, dos temperos secos que minhas crianças saíam a vender para me ajudar no sustento meu e deles próprios.

Não esqueço que minha mãe, negava-lhes um pão velho, numa barraquinha onde vendia cachaça e alguns alimentos, mas que não eram suficientes para ajudar a alimentar seus netos... E acho que ela era mulher.

Hoje é meu dia, e quem sabe receba mil beijinhos cheios de dengo e encômios, mas não esqueço quando fui abandona por todos os amigos, esposo e familiares, inclusive algumas mulheres.
E meus rebentos, quase arrebentados de fome e indiferença, ficaram à míngua de pão, cuidado e afeto, enquanto eu, entre a loucura e apatia, nem lembrava mais se era mulher ou um vegetal.

Pois é, hoje é mesmo o meu dia,
afinal, nos que sobram dos anos, o dias são dos homens, dos machos, e de outras mulheres machistas, que dizem, estão apenas reproduzindo um modelo... Aprendido, já que não aprenderam nem apreenderam o que é solidariedade, compaixão, cumplicidade, mesmo que aparentemente, enfrentam os mesmos paredões de julgamento e fuzilamento, a que todas nós, somos jogadas.

Acho que não quero flores, quero continuar lembrando da hipocrisia, da saia curta que não posso usar, do sub emprego, da tripla jornada de trabalho, afinal sou mulher, o sexo forte, que foi fragilizado ao longo dos séculos, e quando um certo Homem, tentou defendê-las e restituir-lhes à dignidade assaltada, também foi julgado, condenado e crucificado, como continuamos até o dia de hoje: dia da mulher!


Vânia de Farias Castro.
Em 08 de março de 2020
Imagens: Google

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