quinta-feira, 6 de julho de 2017

SEVERINA E MARIANA

SEVERINA E MARIANA

Meu amigo, estou pasmo
estarrecido até.
Esqueci até meu nome
acho que sou Zé mané
nunca vi coisa mais tosca
mas parece as bochechas
de Mariana, a louca,
comadre de Barnabé.

Para entender a história
que agora vou contar
é preciso passear
pela 5 de agosto
é uma rua inteira
onde vivi boa parte
de minha infância entre os moços

Lá passava Mariana
louca e ainda sem perna
usava muitas correntes
saias rodadas e compridas
para esconder o cotoco
e a outra perna sadia

se pintava com exagero
com rouge em suas bochechas
nos braços, muitas pulseiras
duas muletas encardidas
parecia uma cigana
com grandes argolas douradas
e flores em sua cabeça

Sentava em nossas calçadas
com suas saias rodadas
conversava sobre a vida
que a mesma via na mente
pedia pão com manteiga
caneca de café quente
para aquecer seu dia
e o dia de muita gente

Outra senhora estranha
com muitas esquisitices
se chamava Severina
não gostava de mesmice
nem de gente com chatice

Severina Reco Reco
como era conhecida
como muitas Severinas
vivia a própria vida

sem regalias ou regalo
a não ser com com sua casa
decorada com exagero
como as cruzes que vemos
pelas beiradas das estradas
e chamamos de cruzeiro
com flores, grinaldas e fitas

Ao visitar sua casa
víamos uma cena estranha
parede toda coberta
com retalhos coloridos

fotografias já sépias
notícias de jornais velhos
e recortes de revistas
bandeirinhas de papel
com correntes coloridas
lamparinas e muita chita.

Era um caos colorido
por toda sala enfeitada
não havia equilíbrio
pra quem olhasse da estrada
pra Severina Reco Reco
Ali o cosmo imperava.

Acredito que estamos
viajando noutros tempos
um espaço paralelo
onde o mais, agora é menos
falar é coisa de louco
calar é o que aprendemos

Ser político até que é fácil
é permitido roubar
mentir, tirar dos mais pobres
dar a ordem pra matar
se alguém se atrever
no caminho atravessar.

Mas falar de compromisso
com a segurança dos filhos
não pode, eis que apresentam
discursos e seus estribilhos
machista é quem se aventura
a nos mostrar o perigo.

Dizem em alto e bom tom
que a mulher dever ser livre
para receber em casa
qualquer um, mesmo inimigo
de seus filhos, ainda implumes
cuja voz ainda é gemido.

Meu amigo, não entendo
a mudança de valores
o que era feio, hoje é belo
as belezas, são horrores

ler é coisa do passado
amizade, hoje tem cor
criança tem namorado
quem governa é o impostor

sexo que era para adultos
hoje é pra qualquer vivente
velho tem que trabalhar
até o fim da sentença
a cabeça se aposenta
genitália, hoje é quem pensa

Imaginem o resultado
de tanta coisa invertida
quando de minha infância
eu dançava na quadrilha
nos festejos populares...

Hoje é de gente granfina
na capital do país
passo da moda é propina
É uma tal de delação
com os prêmios dos maiores:
"Entregue o bode da vez
que tua vida melhora

mas se tentar ser sabido
o que tá ruim só piora
é a boia no almoço
e o que boiou no jantar
se não quiser faça greve
de fome até se matar.

Mas se aprender o meu passo
nossa quadrilha, dançar
terás vida longa e bela
vais pra Disney passear

Hollywood, nós podemos
no roteiro acrescentar
Las Vegas já está inclusa
vais pros cassinos jogar
o dinheiro que tiramos
dessas antas, do lugar

Eita país de marmotas
sem noção e sem ação
vendemos o seu patrimônio
ainda nos beijam a mão
como os seus benfeitores
protetores da nação

chafurdamos na esbórnia
gozamos em suas mãos
não escutamos um pio
estão mortos de exaustão!"

Eita país de abestados
nunca aprendem a lição!

Vânia de Farias Castro.
Em maio de 20117.
Imagens Google.

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