sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

MUNDO NAS COSTAS

Vânia de Farias

Ando com meu mundo em minhas costas
pareço uma lesma, descendo a encosta
tartaruga, tão lenta que encosta
seu passado ao futuro incerto.


Meu mundo pesa, pesa...
Não me atrevo a parar
se descanso o perco
preciso continuar como a bicicleta

Carrego meu mundo, as vezes, canso
tão pesado se faz, me lanço agora
aos invernos molhados da memória
mas esqueço de toda minha história

Mas se insisto em saber, abro este saco
que carrego nos ombros, já exausto:
tiro a infância, os pulos, os sorrisos
tiro os pés descalços no asfalto

tiro as danças em quadrilhas infantis
em tardes juninas coloridas
os pedidos de flores para os anjos
que partiram sem uma despedida...

Tiro as roupas bonitas e bordadas
fantasias, para os muitos carnavais
cana doce, caiana nos quintais
os adultos, contando as histórias

de Trancoso, ou mesmo as memórias
de um passado com muitos personagens
as lembranças, das festas e viagens
nascimentos, e eventos variados

Tiro ainda, os contos de reinados
suas fadas, com vilas encantadas
as princesas, vivendo enclausuradas
a espera do príncipe enamorado

Mas também, tiro dor e sofrimento
abandono e cruel desilusão
tiro os homens covardes em deserção
tiro a guerra, travada no meu íntimo

tiro mais: minha fé e compromisso
com a vitória do bem sobre o mal
e da vida, pela morte, eis que somos
os futuros anjos puros, imortais!

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